• A Grécia não está habituada a organizar eleições legislativas em Janeiro. Por isso, as campanhas foram preparadas em cima do joelho: muitos partidos quase não têm cartazes nas ruas e não vai haver debates televisivos entre os líderes. 100.000 eleitores nascidos em 1997 (fazem 18 anos em 2015), que tinham por lei direito ao voto, não foram recenseados a tempo. O Syriza, o partido de esquerda que lidera as sondagens, que tem uma forte base de apoio entre a juventude, culpa o Governo de atrasar propositadamente o recenseamento.
  • Todas as sondagens apontam para uma vitória do Syriza com um resultado entre os 31 e os 34%. No entanto, esse resultado não chega para a maioria absoluta, que no modelo político grego corresponde à obtenção de 151 dos 300 lugares do Parlamento. Esse número de lugares é normalmente conseguido com um resultado entre os 37 e os 40%. Se as sondagens se confirmarem, Alexis Tsipras, líder do Syriza, vai ser forçado a juntar-se a outra força política para formar governo.
  • Encontrar esse parceiro de coligação vai ser complicado. Excluídas à partida, as forças políticas que dominaram o poder na Grécia nos últimos 40 anos: o PASOK (socialistas) e a Nova Democracia (direita liberal). O KKE (comunistas ortodoxos) está de costas voltadas para o Syriza e os neo-nazis da Aurora Dourada não são opção. Restam ao Syriza, o To Potami (centristas liberais) e os Gregos Independentes (nacionalistas eurocépticos). Apesar das diferenças ideológicas, o Syriza terá de abraçar um deles. Os restantes partidos não poderão ser tomados em consideração porque a Constituição grega veda o acesso ao Parlamento a quem tenha resultados inferiores a 3%.
  • Deputados e eleitores de direita referem-se ao Syriza como um partido comunista. Temem que atire a Grécia para fora do euro, siga um programa de nacionalizações e leve o país à bancarrota. Se, por um lado, os militantes do Syriza se tratam por “camaradas” e a rádio do partido abre o sinal com a Internacional Socialista, por outro, Alexis Tsipras tem suavizado o seu discurso e até já tirou a fotografia de Che Guevara do seu gabinete. 
  • O Syriza é formado por várias correntes de esquerda: eurocomunistas, trotskistas, maoístas, ecologistas e ex-membros do socialista PASOK. As fações mais rígidas da coligação, bem como outros partidos da extrema-esquerda grega, temem que o partido se torne sistémico, uma espécie de novo Partido Socialista. Muitas dos seus membros não tolerarão que tal aconteça.
  • O PASOK aparece nas sondagens com uns insignificantes 4%. Os gregos identificaram os socialistas como os principais responsáveis pela crise e puniram George Papandreou com a execução política (o ex-primeiro-ministro lidera um novo partido mas nem chega aos 3%). Muitos membros do PASOK, principalmente os sindicalistas, mudaram-se para o Syriza e a grande fatia dos seus tradicionais eleitores vota agora em Tsipras. Há um corpo das forças especiais destacado diariamente para proteger a sede do PASOK de ataques de cidadãos enfurecidos.
  • O executivo grego tem pela frente meses extremamente atribulados: em Fevereiro, tem de negociar com a troika os parâmetros do fim do memorando, depois, aplicar reformas e, no Verão, pagar duas avultados tranches do empréstimo no valor aproximado de 50 mil milhões de euros. Vários analistas políticos vaticinam a queda estrondosa do Syriza durante este período. Uma queda que, para alguns, foi preparada pelos think-thanks do Nova Democracia, de forma a deixar a “batata quente” a Tsipras, levando-o à auto-destruição. Chamam-lhe “parênteses de esquerda”, uma passagem curta da esquerda pelo poder, para depois se retomar a ordem natural das coisas.
  • No quadro desta teoria, é temida a ascensão dos ultranacionalistas do Aurora Dourada como reação a um possível fracasso do Syriza. Durante a última semana, os anarquistas, um movimento com bastante força em Atenas, organizaram uma conferência em que foi analisada essa possibilidade.
  • O Syriza começou a preparar o seu programa na primeira semana de Outubro, sem ainda saber que as eleições se precipitariam. O documento prevê a implementação de várias medidas sociais, como teto para todos os sem-abrigo, reinstalação da eletricidade às famílias que deixaram de poder pagar a conta, aumento do salário mínimo para os 750 euros, garantia de cuidados de saúde a todos os que ficaram desprovidos de seguro e ajuda alimentar a crianças. O custo do plano de Salónica é de 12 mil milhões de euros.
  • A Coligação de Esquerda Radical pretende negociar um perdão parcial da dívida tendo como contrapartida os danos causados pela Alemanha durante a invasão nazi. Promete estabilizar o sistema fiscal e taxar em 75% os rendimentos anuais superiores a 500 mil euros. Os seus adversários dizem que assim que o fizerem a Grécia sai da zona euro e os milionários abandonam o país.
  • A propaganda dos adversários do Syriza tem dois motes: radicalismo e inexperiência. A direita aproveitou os atentados de Paris para dizer que o mesmo acontecerá na Grécia se o Syriza vencer e abrir a porta aos imigrantes. O PASOK fez um anúncio televisivo em que um piloto anuncia aos passageiros que vai voar pela primeira vez, levando-os ao pânico. Desarmar a polícia, tomar controlo de depósitos bancários e afrontar a Igreja Ortodoxa, são outras das suspeitas mais comuns lançadas pelos adversários dos esquerdistas.

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