O músico António Zambujo apresenta nesta sexta-feira o novo disco, “Rua da Emenda”, na sala La Cigale, em Paris, onde espera continuar a conquistar o público francês e a “aliviar um bocadinho” a “saudade” sentida pelos portugueses emigrantes, disse à Lusa o cantor. “As expectativas são boas. O disco saiu e entrou logo para o primeiro lugar do ‘top’ do iTunes, aqui em França. A sala está praticamente esgotada também. Sei que França não é só Paris, mas isto é um bom indicador de que as coisas poderão eventualmente correr bem, quer dizer, como têm corrido”, afirmou o músico que tem atuado em França desde 2007.

António Zambujo reconheceu que os seus concertos “têm cada vez mais público” e que até gravou uma música de Serge Gainsbourg no disco novo para “surpreender” a sua agente em França, que lhe tinha dito que já podia “gravar qualquer coisinha em francês”. “Ela gostou muito e disse que o meu sotaque estava porreiro”, contou, justificando a escolha do tema “La Chanson de Prévert”, por gostar do músico Serge Gainsbourg, do poeta Jacques Prévert e por causa da “ligação com o jazz”.

António Zambujo recordou, ainda, que antigamente “não tinha muitos portugueses a assistir” aos concertos, mas que a situação mudou desde que participou no tributo a Zeca Afonso, no Théâtre de la Ville, em novembro de 2012, e desde que “saiu aquela música lá em Portugal, a ‘Lambreta'”.

“A ‘Lambreta’ é uma música que vive muito da letra, tens que saber português para gostar daquela música. Aqui em França normalmente até a tirávamos do alinhamento. A partir dessa altura, eu começava a ouvir as vozes na plateia para cantar a ‘Lambreta’ e então pensei ‘Estamos a ter cada vez mais portugueses’ e voltei a colocar a música no alinhamento”, continuou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O cantor disse também que nota “a alegria das pessoas em ouvir um concerto de alguém a cantar em português”, descrevendo que há uma sensação de saudade que se instala. “Há pessoas que emigram por vontade própria – querem sair e querem conhecer outras coisas -, e há outras pessoas que infelizmente emigram, porque o sítio onde elas querem morar não lhes dá condições para elas viverem. Então existe uma saudade asfixiante e eu acho que estes concertos acabam por aliviar um bocadinho essa sensação”, afirmou.

Quando questionado sobre as músicas que destaca na “Rua da Emenda”, a seguir ao single “Pica do 7”, é “a Valsa do vai não vás”, que António Zambujo aponta, sendo este um tema que “tem uma parte que fala um bocadinho da emigração, nesta emigração mais forçada que é a aquela história de ‘Para ganhar dinheiro tens de ir para o estrangeiro'”.

O cantor, que cresceu a ouvir o cante alentejano, vai atuar em Paris cerca de dois meses após a capital francesa ter sido palco, na UNESCO, da declaração do cante alentejano como Património Imaterial da Humanidade e três anos depois de a mesma distinção ter sido atribuída ao fado.

“A música que eu faço assenta nesses dois pilares, a música tradicional do Alentejo e o fado, que são as minhas primeiras memórias musicais. Foi por causa desses géneros que eu quis ser cantor, que eu quis ser músico. No entanto, não estão sozinhos, há outros géneros que se vão acrescentando por gosto pessoal ou por deformação profissional, como a música popular do Brasil, como o jazz, como a música africana, principalmente as mornas de Cabo Verde”, concluiu.

“Rua da Emenda” é o sexto disco do cantor e foi editado em novembro, em Portugal, sucedendo a “Quinto” (2012), “Guia” (2010), “Outro Sentido” (2007), “Por meu Cante” (2004) e “O mesmo Fado” (2002).