Desde “ficar em casa a brincar com os netos” a sentar-se na Assembleia da República como deputado, ou a candidatar-se às eleições presidenciais, Alberto João Jardim admite tudo para o futuro. Mas não confirma nada. Uma coisa é certa, antes de tomar decisões sobre o futuro, terá primeiro de “fazer contas à vida”. Porque “não sejamos hipócritas”, o dinheiro também interessa. E vir para Lisboa de malas às costas faz diferença na carteira…

Que o diga “um ministro” a quem certa vez Alberto João Jardim perguntou “como é que sobrevivia, não sendo de Lisboa, trabalhando em Lisboa e tendo filhos”, e que serviu de exemplo para Jardim criticar o “preconceito” que existe sobre quanto auferem os políticos. A história foi contada esta terça-feira quando o presidente demissionário do Governo Regional da Madeira falava aos jornalistas à saída de uma audiência com Cavaco Silva, em Belém. E o tal ministro, que Jardim diz saber quanto leva para casa ao fim do mês já que o seu salário enquanto líder do executivo da Madeira é equiparável ao de ministro do Estado, ter-lhe-á respondido que vivia da “caridade dos colegas de escritório”.

“O preconceito que hoje existe quanto ao que auferem os políticos é de tal ordem que daqui a nada vamos ter políticos a pedir dinheiro emprestado para sobreviver”, atirou, dizendo que situações como a do ministro sem nome “não são dignas de um país democrático”. Por isso, antes de decidir sobre o seu futuro na vida política ativa, Jardim garante que vai primeiro “fazer contas à vida”. Pelo sim pelo não, a hipótese de “ficar em casa a brincar com os netos” continua em cima da mesa.

O cenário de avançar para uma candidatura presidencial é talvez o menos provável, já que o líder demissionário do da Madeira não deverá contar com o apoio do partido e isso, diz, é um requisito fundamental para ganhar. “Só em certas condições vale a pena ser candidato sem o apoio dos partidos”, disse aos jornalistas, deixando a hipótese em aberto mas não admitindo estar em condições excecionais para o fazer. E ir para Lisboa sentar-se no lugar de deputado? Pode ser que sim, pode ser que não.

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Sublinhando que é, “e sempre foi”, anti-austeridade, Jardim quis ainda deixar um cumprimento ao Syriza pela vitória nas eleições gregas, numa altura em que Portugal precisa de “mudanças” para sair do regime “partidocrático” em que mergulhou. Nesse sentido, admite que devia haver um partido novo estilo Syriza no cenário político nacional, desde que não fosse “radical”. Onde? “No centro-esquerda ou no centro-direta”, diz.

“Faz cá falta um Syriza não radical no centro-direita ou no centro-esquerda, todos sabem que o regime democrático desabou num regime partidocrático e é preciso mudança”, afirmou o presidente demissionário do Governo Regional da Madeira, admitindo que esse futuro movimento podia mesmo vir de dentro do PSD. Só não seria encabeçado por si porque Jardim vive no “exílio dourado da Madeira” e a surgir de algum lado teria de ser do continente”. “Não sou nenhum D. Quixote”, disse.

Apesar de não ter tomado ainda decisões sobre o futuro, Jardim parece estar bem arrumado com o passado. Só há uma coisa que diz que ficou por fazer depois dos seus quase 40 anos à frente da Madeira: “as pazes com a comunicação social”. “Esqueci-me”, foi isso.