As cheias que afetam Moçambique podem retirar até 1% ao crescimento económico previsto para 2015, reduzindo-o a 6,5%, segundo o boletim económico mensal do Standard Bank, referente a fevereiro, a que a Lusa teve acesso. De acordo com o documento, assinado pelo economista-chefe do Standard Bank, Fáusio Mussá, “as fortes cheias que este ano incidiram sobre a região centro e norte do país, tendo causado dezenas de perdas humanas e milhares de afetados, com impactos negativos ainda por avaliar sobre a agricultura e outras atividades económicas, tendo deixado uma larga extensão do centro/norte o país sem eletricidade e comunicação terrestre, poderão resultar numa redução do PIB previsto para 2015 entre 0,5 e 1 ponto percentual, para 7%-6,5%”.

O número de mortes provocadas pelas cheias que atingem a região centro e norte de Moçambique subiu para 117, das quais 93 na província da Zambézia, de acordo com o último balanço, divulgado na terça-feira pelas autoridades.

Segundo um relatório do Ministério da Administração e Função Pública enviado à agência Lusa, mais de 157 mil pessoas foram afetadas pelas cheias que atingiram as províncias da Zambézia (124,3 mil pessoas), Nampula (19,5 mil), Niassa (12,8 mil), Cabo Delgado (169), Sofala (145) e Tete (45).

O relatório do Standard Bank, um dos principais bancos a operar em Moçambique, considera que apesar do impacto das cheias, o país vai continuar a expandir-se num ritmo significativo, chamando, no entanto, a atenção para o endividamento do Estado, cuja percentagem sobre o PIB está a aproximar-se dos 40%, tendo chegado, segundo as previsões do banco, aos 36% no ano passado.

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“Dados sobre a sustentabilidade da dívida indicam que o pais poderá estar a aproximar-se rapidamente do limite de 40% que corresponde ao rácio da divida externa atual sobre o PIB, o que muito provavelmente irá influenciar a forma como o Governo contrata nova dívida”, afirma-se no documento.

Sobre os recursos naturais, o setor no qual Moçambique aposta para escapar ao grande nível de pobreza, o Standard Bank considera que “a importância do setor dos recursos naturais na economia mantém-se muito acima da sua contribuição para o PIB, inferior a 4%, tendo sido o maior investidor estrangeiro da última década, ajudando a estabilizar algumas das variáveis macroeconómicas e a desenvolver a fraca infraestrutura do país”.

Onde há más notícias é no preço do carvão e do petróleo, que atravessam momentos de forte quebra face ao que tinha sido a média dos últimos anos – no caso do petróleo, a descida no preço ultrapassa os 50% face aos valores de junho.

“Espera-se que o atual preço baixo do carvão e do petróleo nos mercados internacionais resulte num atraso no investimento direto estrangeiro adicional previsto para os setores do carvão e gás natural, orçamentado em múltiplos do PIB do país”, diz o relatório.

Apesar das incertezas em relação ao desenvolvimento dos chamados megaprojetos, “espera-se que Moçambique continue a crescer a um ritmo acelerado, beneficiando de uma economia relativamente diversificada, mas negativamente afetada pela tensão política que se vive nos últimos dois anos, com impacto negativo sobre o ambiente de negócios e perspetivas de investimento”, conclui o documento, de 12 páginas.