Ricardo Salgado escreveu na quinta-feira à comissão parlamentar de inquérito ao BES e os partidos da oposição resolveram chamar Cavaco Silva a prestar esclarecimentos. No dia seguinte, Ricardo Salgado enviou nova carta aos deputados, onde esclarece o que quis dizer. Na missiva, afirma que só respondeu às perguntas dos deputados e pede para que as suas palavras não sejam usadas na guerra política. A comissão de inquérito ao BES continua nas voltas do correio, com o ex-banqueiro a registar por escrito que não quer ser “descontextualizado“.

Quinta-feira, dia 29 de janeiro, Ricardo Salgado envia uma carta à comissão de inquérito do BES onde detalha encontros que teve com o Presidente da República, o vice-primeiro-ministro e outros responsáveis políticos. Nessa mesma quinta-feira, os três partidos da oposição agarraram no conteúdo da carta e pediram para que Cavaco Silva respondesse por escrito a algumas perguntas e que se agendasse rapidamente a ida de Paulo Portas ao Parlamento. Ricardo Salgado ouviu o PS, PCP e BE e não gostou. Decidiu escrever nova carta aos deputados para esclarecer o que afinal quis dizer e remeteu-a para a Assembleia da República no dia seguinte.

O que fica da segunda carta de Salgado é mais do que dizer que respondeu ao que lhe foi perguntado e o timing da nova carta não é de somenos: o ex-banqueiro ouviu os partidos da oposição envolverem o Presidente da República e usarem a carta que escreveu como argumento para o pedido de depoimento do chefe de Estado. E, por isso, decidiu escrever uma carta justificativa da primeira.

Diz Salgado que “houve uma tentativa de descontextualizar os esclarecimentos” que prestou e espera que o caso não se volte a repetir: “Por forma a garantir que a minha resposta será apreciada, exclusivamente, para a prossecução do objeto desta comissão parlamentar de inquérito, e não venha a ser desvirtuada para outros fins, saliento o seguinte”. E o seguinte é, na prática, que apenas disse o que lhe perguntaram. E nada mais.

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Diz Salgado que nas respostas escritas que remeteu à comissão procurou “esclarecer, de forma objetiva, as questões que foram formuladas, naturalmente pelos senhores deputados”. E que se as perguntas se referiam “taxativamente” a certas entidades, foi sobre essas entidades que respondeu.

A polémica começou na quinta-feira depois de o Observador ter divulgado a segunda carta que o ex-presidente do BES enviou à comissão de inquérito. Na missiva, Ricardo Salgado detalhava duas reuniões que manteve com o Presidente da República no ano passado e, contou, que na última, em maio, falou dos problemas do Banco Espírito Santo, além dos problemas do Grupo Espírito Santo.

O problema coloca-se, para a oposição, porque as reuniões de Salgado com os dirigentes políticos aconteceram antes do aumento de capital do banco e, por isso, querem saber exatamente qual a informação que dispunham e porque não travaram a subscrição do aumento de capital.

Depois de conhecida a carta, PS, PCP e Bloco de Esquerda pediram depoimentos por escrito ao Presidente da República e o agendamento da audição de Paulo Portas na comissão. Contudo, esta iniciativa da oposição deverá ficar pelo caminho. Num primeiro momento, o PSD reagiu dizendo que nunca tinha votado contra um pedido dos partidos da oposição, mas, depois das declarações do Presidente da República em que este disse que não tinha “esclarecimentos adicionais a dar”, os sociais-democratas voltaram atrás e dizem que vão chumbar os requerimentos apresentados pelos três partidos. O PS não forçará este pedido, mas insiste num outro: do primeiro-ministro, apesar de este ter dito no fim de semana nada mais ter a dizer sobre o assunto.

Já Paulo Portas, que vai ser chamado à comissão de inquérito, foi questionado pelos jornalistas na sequência desta informação e não falou sobre o tema remetendo explicações para mais tarde, quando for ouvido pela comissão. “Sempre fui a favor do apuramento da verdade. Quando me chamarem, lá irei”, respondeu.