Manuel Clemente, de 66 anos, torna-se este sábado cardeal depois de ter sido um dos 15 escolhidos com capacidade eleitoral (com menos de 80 anos) pelo papa Francisco.
Sobre esta decisão, considerada importante pela Igreja portuguesa, o cardeal José Saraiva Martins disse à Agência Ecclesia que a cerimónia de sábado será um “momento histórico” para a Igreja Católica em Portugal. Também o cardeal D. Manuel Monteiro de Castro deu conta de uma “grande alegria” por acolher D. Manuel Clemente.
A partir deste sábado, Portugal estará representado neste órgão da Santa Sé por três cardeais, sendo que apenas dois (a partir deste sábado, Manuel Clemente, e Monteiro de Castro) têm direito de voto na escolha do líder da Igreja Católica.
Na sua história, o país teve, até hoje e contando com a eleição de D. Manuel Clemente, 43 cardeais. É tradição que o patriarca de Lisboa seja indicado para um lugar de cardeal desde que o papa Clemente XII emitiu, em 1737, uma bula que assim o estabelecia.
Habitualmente, os patriarcas de Lisboa são feitos cardeais no primeiro consistório após a tomada de posse como líderes da diocese. No momento do primeiro consistório de Manuel Clemente, o patriarca José Policarpo era ainda vivo. Essa é uma das razões apontadas para Manuel Clemente não ter constado da lista de 19 cardeais que o papa Francisco apresentou há um ano, em janeiro de 2014.
Para lhe contar a história portuguesa no Vaticano, selecionámos alguns dos 43 cardeais portugueses e apresentamos-lhe um breve perfil destes. Na fotogaleria pode consultar gravuras, fotografias e o nome destes 32 cardeais.
Manuel Clemente
Manuel José Macário do Nascimento Clemente nasceu em Torres Vedras em julho de 1948. Licenciou-se em História na Universidade de Lisboa, tendo ingressado, em 1973, no Seminário Maior dos Olivais em 1973. Licenciou-se em Teologia seis anos depois, pela Universidade Católica. Em 1992 completou o doutoramento em Teologia Histórica em 1992. Foi ordenado sacerdote em 1979 e nomeado bispo titular de Pinhel, auxiliar do Patriarcado de Lisboa e bispo do Porto.
Atualmente, é presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e membro do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais. Com diversos livros e estudos publicados sobre História e Teologia, foi “Prémio Pessoa 2009”.
José Policarpo
José da Cruz Policarpo nasceu nas Caldas da Rainha a 26 de fevereiro de 1936. Licenciou-se em Filosofia e Teologia no Seminário Maior de Cristo-Rei, dos Olivais.
Depois da morte do cardeal-patriarca D. António Ribeiro, D. José da Cruz Policarpo sucedeu como 16º patriarca de Lisboa em 24 de março de 1998. Até 2001 foi referido como D. José IV, patriarca de Lisboa. Nesse ano foi eleito cardeal, passando a ser cardeal-patriarca de Lisboa.
Em 2011 enviou uma carta ao Papa Bento XVI, renunciando ao patriarcado, uma vez que a 26 de fevereiro completaria 75 anos, idade limite para o exercício do cargo.
Manuel Monteiro de Castro
Nasceu em Guimarães a 29 de março de 1938.
Foi eleito Cardeal em 2012 e nomeado como do Colégio Cardinalício com o lugar de Penitenciário-Mor da Penitenciaria Apostólica. É membro da Congregação para a Causa dos Santos e do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes.
José Saraiva Martins
Nasceu na Guarda, a 6 de janeiro de 1932. Entrou no seminário das Termas de São Vicente em 1944. Licenciou-se em Teologia na Universidade Gregoriana em Roma. Foi nessa cidade – na Universidade de S. Tomás de Aquino – que depois concluiu o doutoramento. Foi ordenado bispo a 2 de julho de 1988, em Roma. A 21 de fevereiro de 2001 é feito Cardeal.
António Ribeiro
Nascido em Celorico de Basto em 1928, foi nomeado auxiliar do Arcebispo de Braga em 1967 e patriarca de Lisboa em 1971. Tornou-se cardeal no consistório de 5 de março de 1973, do Papa Paulo VI. Foi o cardeal-patriarca que acompanhou o 25 de abril, fazendo a transição entre a ditadura e a democracia.
Manuel Gonçalves Cerejeira
O cardeal cujo nome ficará para sempre associado à Concordata que o Governo de Salazar realizou com a Santa Sé, em 1940, nasceu em 1888, tendo-se tornado patriarca de Lisboa em 1929. No mesmo ano foi feito cardeal da Ordem dos Presbíteros. Criou a Universidade Católica.
António Mendes Belo
Nascido em 1842, António Mendes Belo assumiu a diocese do Algarve em 1884 e o patriarcado de Lisboa em 1907. Em 1911 foi expulso de Lisboa, na sequência da turbulência política e do anticlericalismo que se seguiu à implantação da República, em 1910. Exilou-se em Gouveia durante dois anos. Tornou-se cardeal em 1914, no mesmo Conclave em que foi eleito o Papa Bento XV.
Paulo de Carvalho e Mendonça
O irmão do Marquês de Pombal foi feito cardeal pelo Papa Clemente XIV em 29 de janeiro de 1770, mas faleceu antes de o anúncio da nomeação ter chegado a Lisboa.
Infante D. Afonso
O Infante era filho de D. Manuel I, que, quando o seu filho tinha apenas três anos, tentou fazê-lo cardeal, um cargo vedado a menores de 30 anos. Em 1525, no Papado de Leão X, o infante, com apenas 26 anos, foi feito cardeal.
Henrique
D. Henrique era filho do rei D. Manuel I. Nasceu em Lisboa em 1512 e 22 anos depois era eleito Arcebispo de Braga pelo Papa Clemente VII. Foi feito cardeal em 16 de dezembro de 1545. Ocupou o trono português em 1578, depois da morte de D. Sebastião. Tentando resolver o problema de sucessão, propôs anular os seus votos religiosos, de modo a casar com a rainha-mãe de França, assegurando assim descendência. Morreu dois anos depois, sem descendência. Para ocupar o seu lugar havia nomeado uma regência, mas Portugal acabaria por perder a independência.
Pedro Hispano
Pedro Hispano ou D. Pedro Julião é o único Papa português até agora. Nasceu em Lisboa em 1215 e foi uma figura importante da ciência, sendo apontado como filósofo, teólogo, médico e autor de obras científicas. Dante refere-se a ele na Divina Comédia. Na sua estadia em Roma, tratou o Papa Gregório X. Foi feito cardeal em 1274 e tornou-se Papa com o nome de João XXI entre 1276 e 1277.
Mestre Gil
Aquele que também aparece com o nome de Egídio foi o primeiro Cardeal português, eleito pelo Papa Urbano IV (1378 – 1389).