E se em vez de um “I” na sigla de Estado Islâmico estivesse um “F” de Estado Fanático? Faria mais sentido. Foi esta a tese que Rania Al-Abdullah levou na quinta-feira à noite a um ciclo de conferências sobre o futuro, organizado pelo site norte-americano Huffington Post. Conhecida pela sua educação ocidental num mundo árabe e pelo trabalho de defesa dos direitos à educação, saúde e diálogo entre culturas e religiões, a rainha da Jordânia voltou a fazer um discurso mediático e muito aplaudido. Desta vez contra a tónica religiosa que a comunidade internacional está a pôr na guerra contra o Estado Islâmico. “Não há nada de islâmico à volta deles”, disse.

“Adoraria deixar cair o “i” da sigla EI (Estado Islâmico) porque não há nada de islâmico à volta deles”, começou por dizer Rania, desencadeando uma forte onda de aplausos na plateia. Na sua opinião, a comunidade internacional peca por se focar no caráter religioso daquele grupo de jihadistas porque, “de cada vez que o fazemos, estamos a dar-lhes uma legitimidade que não merecem”. E explica porquê:

“O auto-proclamado Estado Islâmico quer ser mesmo chamado de Islâmico porque, assim, todas as ações que sejam desencadeadas contra eles vão ser automaticamente designadas de guerra contra o Islão. E é exatamente isso que eles querem que seja. Querem que seja o Ocidente a vir atrás do Islão porque isso ajuda-os a recrutar mais pessoas e a aliciar novos seguidores”, explicou.

O assunto é, claro, demasiado sensível, a avaliar pela quantidade de vidas que já foram colhidas pelo fanatismo do Estado Islâmico e pela quantidade de cidades inteiras que foram destruídas às mãos dos jihadistas. Mas, segundo a rainha da Jordânia, têm de ser pensadas formas diferentes de orientar a luta contra este fenómeno que ameaça a paz no mundo.

Na frente de batalha contra o EI devem estar, diz, os povos árabes, sendo que a comunidade internacional deve ter apenas um papel secundário. E admitindo que grande parte desta guerra se está a fazer através da propaganda via internet e redes sociais com conteúdo associado à comunidade árabe, defendeu que “não podemos deixar que o Estado Islâmico nos roube a identidade”. “Temos de escrever a nossa própria narrativa”, atirou a rainha da Jordânia, entre aplausos da plateia que assistia à conferência.

Para Rania, no entanto, a luta contra o Estado Islâmico não pode passar só pelo braço de ferro militar, ainda que defenda a via do confronto. É preciso ir mais longe. A verdade é que “o que está no coração desta guerra é a ideologia, e não se consegue matar a ideologia com uma bala”. Nem com muitas. Como é que se consegue, então? “Só com uma ideia melhor”.

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