Panda Bear Meets The Grim Reaper, o mais recente álbum de Panda Bear, chegou às lojas físicas e digitais em janeiro e os fãs apressaram-se a ouvir. Gostaram tanto que esgotaram o concerto que teve lugar esta quarta-feira no Teatro Maria Matos, em Lisboa. Mas depois sabem que não é só isso que vai contar a partir do momento em que Noah Lennox pisar o palco. Há mais de uma década que o músico norte-americano radicado em Lisboa pega nas músicas de estúdio e transforma-as, sem que a plateia se surpreenda nem desiluda. Pelo contrário, pode até dizer-se que é a constante experimentação que lhe pauta o trabalho uma das grandes culpadas pelo culto existente à sua volta. É como estar num laboratório e assistir às experiências de um inventor. Em Lisboa, os bilhetes esgotaram com dois meses de antecedência. Hoje há novo concerto em Braga, igualmente esgotado.

Na primeira fila do Maria Matos também está Panda Bear. Ou melhor, uma fã que decidiu trazer um barrete em forma de urso panda fofinho. Discreto como sempre, o fundador dos Animal Collective entrou em palco pouco depois das 22h00 sem fazer comentários à rapariga sentada à sua frente. Aliás, até ao primeiro e único encore, as duas únicas palavras que dirigiu ao público foram um “boa noite” perfeitamente português, antes de se lançar a “You Can’t Count On Me”, do penúltimo álbum, Tomboy, lançado em 2011.

A partir daí, sim, o público pôde contar com muito Panda Bear Meets The Grim Reaper. “Boys Latin”, “Butcher Baker Candlestick Maker”, “Crosswords”, “Come To Your Senses”. Tudo isto e muito mais sem qualquer paragem para palmas. Que só surgem a seguir, quando Noah Lennox transita para a calma de “Tropic of Cancer”, ajudada pelos samples de harpa que lhe marcam o compasso. Foi talvez o momento mais bonito do concerto, foi certamente a melhor oportunidade para ouvir o alcance da voz do norte-americano, ainda que não seja o seu forte. E foi a transição entre “Tropic of Cancer” e “Selfish Gene”, canção cujo nome foi roubado a um livro de Richard Dawkins, a arrancar as primeiras (merecidas palmas). Depois de uma breve ausência do palco para assinalar o encore, dois regressos: o de Panda Bear e o de Tomboy, com a mágica “Surfer’s Hymn” a encerrar o espetáculo.

Reverbsamples, harmonias vocais, remisturas, psicadelismo auxiliado em grande parte pelos vídeos de Danny Perez que passaram durante todo o concerto e pelos constantes flashes de luzes estroboscópicas lançadas para o público. Eis como foi passar hora e meia na companhia de Panda Bear. Foram muito poucos os que se levantaram das cadeiras para balançar o corpo ao som da música. O ambiente visual e sonoro assim o pedia, mas a esmagadora maioria preferiu ficar sentada a observar e a absorver tudo. Afinal, apesar de a voz dos Animal Collective morar em Lisboa, nunca se sabe quando haverá nova oportunidade para assistir ao vivo ao espetáculo camaleónico do norte-americano. Se tivermos em conta a procura por bilhetes e a recompensa dada esta quarta-feira a quem foi cedo às bilheteiras, arriscamos dizer que um reencontro para breve seria bem-vindo.

panda bear no maria matos 2015

©Luis Martins / Divulgação

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