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Ora essa, quem havia de ser? Marca que se farta, tem na canhota um pincel que parece ser capaz de desenhar tudo e na cabeça um universo de ideias sem fim. Esteja a equipa aflita, ou não, é só arranjar maneira de fazer a bola chegar ao argentino e confiar que, depois, ele lá inventará qualquer coisa. Nem é preciso muita confiança, já que ele tem tantas vezes sucesso que, hoje, até já se tornou previsível — cada vez que tem a redonda nos pés todos sabem que dali vai sair algo de extraordinário. Gianluigi Buffon, a lenda das luvas que defende a baliza da Juventus, não o podia ter dito melhor: “É um allien que joga connosco, com os humanos.”

Já o faz há muitos anos. Os suficientes para, em casa, aos 27 anos, ter as medalhas de três Ligas dos Campeões conquistadas (2006, 2009 e 2011), que não deverão andar longe da prateleira que guarda as quatro Bolas de Ouro.  É um monstro. Um papa-títulos, um come-recordes que, na época passada, andou um pouco sonâmbulo até alguém o despertar em janeiro, com um “picanço” dentro de um auditório. Foi quando Cristiano Ronaldo, ao ser considerado o melhor do mundo pela terceira vez, disse que o plano era apanhar o canhoto em número de prémios conquistados. Aí o pequenote do Barça acordou e começou a jogar mais do que nunca. Vai com 58 golos marcados e, sobretudo, 27 assistências, só uma aquém da sua melhor época (2011/2012).

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Além de correr, fintar, de não perder a bola e de criar magia, agora o argentino já inventa muitos mais passes do que antes. Daqueles a rasgar defesas, pelo ar, que nunca aterram muitos centímetros ao lados dos pés onde foca a mira. No campo, La Pulga passa os jogos rodeado de humanos, como sempre, mas esta temporada houve uma novidade: já tem dois homens ao lado que são dotados de super poderes. Neymar e Luis Suárez, um brasileiro e um uruguaio, fazem-lhe companhia no ataque. Já lhes chamam um triplete, em bom castelhano, e com os tempos tornaram-se especialistas em inventar jogadas a toda a velocidade, com poucos toques e virados para a baliza. E quem junta tudo com uma cola mágica é Lionel Messi. Só podia, não é?

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Hoje até passa mais tempo sentado no banco do que a ser uma central de distribuição de passes no relvado. Xavi já não vai para novo (36 anos), mas há poucos pés aos quais a bola mais obedeça quando recebe ordens para ir viajar. O capitão e número 6 do Barça já disse que se vai embora no final da época, para o Qatar, e só não foi antes porque, no verão passado, Luis Enrique insistiu para que ficasse. Normal: o treinador sabia que precisava uma cabeça para pensar por ele no relvado. E o pequeno médio ficou, a passar a bola e talvez a dar conselhos a Ivan Rakitic, o loiro croata que foi contratado para o substituir e tem jogado à brava.

Mas Xavi é Xavi. É ele que faz tudo parecer simples através do passe e dos rodopios que sempre faz com a bola para não a perder. Pede a bola, manda nela e nem precisa de abrir a boca para dar ordens nos outros e dizer-lhes qual é o melhor caminho de uma jogada. Basta que eles sigam o caminho das bolas que saem do pé direito do capitão. Já são mais de 700 jogos feitos pelos culé e o último que fará poderá dar-lhe a quarta Champions (2006, 2009 e 2011) com o clube.

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Vendo bem as coisas, não há nenhum. Os 11 que jogam no Barça são 11 dos melhores jogadores do planeta nas suas posições. Se Jérémy Mathieu andasse a jogar, talvez fosse o ruivo e canhoto central, que também pode dar uma perninha a lateral, a levar com esta etiqueta. Mas o francês tem passado mais tempo no banco do que no relvado e, portanto, fraquezas individuais não há muitas. Nem Mascherano, que já leva muitos anos a aprender a ser central e está mais habituado a estar ao lado de Gerard Piqué do que a fazer companhia a Xavi ou Iniesta no meio campo.

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E voltamos ao mesmo. Lionel Messi só não marca que se farta porque parece não se fartar de marcar. O argentino vai com 10 feitos nesta Liga dos Campeões e leva 77 marcados na competição — em ambos os registos está empatado com Cristiano Ronaldo. O argentino pode ter 58 golos marcados esta temporada, mas se não for ele a marcar, a equipa bem pode confiar no que Neymar e Luis Suárez conseguirem fazer. É fácil perceber porquê: o brasileiro está com 41 golos e o uruguaio com 35. Já tínhamos falado deste triplete? Cuidado com ele.

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O problema que este Barça dá aos outros é sobretudo este — o perigo, mais que nunca, pode vir de todos os lados, e ter Messi mais ou menos controlado (porque é impossível tê-lo sempre) pode significar que Neymar e Suárez terão mais espaço para brincar. É um ver se te avias valente e a Juventus terá de tentar descobrir uma maneira de lidar com isto. O treinador, Maximiliano Allegri, deu uma pista: “Como se para o Messi, o Neymar e o Suárez? Com golos.” Vamos lá ver é se eles aparecem. E cuidado, porque alguém decidiu picar a Pulga outra vez. Foi Chiellini, que esta semana resolveu dizer que ele “não marcaria tantos golos se jogassem em Itália”. Ui, que isto vai aquecer.