Já se tinha decidido a contar a história. Antes de dar corda às palavras, contudo, olhou para cima, para o céu, e disse: “Julio, perdoa-me pelo que vou contar.” Não se sabe quem o disse, pois é uma fonte que um jornalista do La Nácion, diário argentino, não identificou, mas sabe-se bem quem é a outra pessoa. É Julio Grondona, um ex-presidente da Associação de Futebol Argentino (AFA), já falecido, que em 2010 terá dado uma ideia a Joseph Blatter para resolver o imbróglio que a FIFA tinha com a Irlanda. Primeiro, portanto, há que contextualizar.
Antes do Mundial da África do Sul houve um play-off de apuramento, como agora há sempre. O sorteio fez com que a Irlanda jogasse contra a França. Os dois jogos não correram bem aos homens de verde. Em Dublin os gauleses venceram (1-0) e depois, em Paris, houve um empate que se tornou feio por culpa de uma mão marota. A de Thierry Henry, avançado francês que, já no prolongamento, aos 103’, esticou o braço esquerdo para ajeitar a bola e depois a passar a William Gallas. Tudo acabou no golo que empurrou a França para um avião rumo ao Campeonato do Mundo de 2010.
A fúria explodiu nos irlandeses como uma chaleira farta de estar ao lume. Criticaram, reclamaram e bateram à porta da FIFA, furiosos com a arbitragem que não vira a mão de Henry. A federação irlandesa chegou mesmo a ameaçar que ia apresentar queixa contra a entidade presidida por Blatter, e que ia fazê-lo no Tribunal Arbitral do Desporto. Mas a FIFA — e isto soube-se na passada semana — fez um acordo com a Irlanda para que o país parasse com isto e não recorresse à justiça. E conseguiu-o, alegadamente, pagando cinco milhões de euros à federação irlandesa.
Mas as compensações, ao que parece, não ficaram por aqui. Na quarta-feira, um colunista do La Nácion, diário argentino, escreveu que o tal Julio Grondona, então presidente da AFA, pegou no telefone e sugeriu a Joseph Blatter que “desse” à Irlanda um jogo amigável frente à Argentina. A partida serviria para inaugurar o Aviva Stadium, em Dublin e vinha com um brinde — Lionel Messi. Mas, como disse a fonte não identificada pelo jornal argentino, o jogo estava marcado para 11 de agosto de 2010, altura em que o Barcelona estava na Ásia, no tipo de digressões em que os clubes recebem muitos euros para lá irem mostrar os jogadores que têm na equipa.
Para estar em Dublin, portanto, Messi tinha de interromper a viagem pela Ásia. O problema é que o craque argentino, para jogar ali, tinha um seguro avaliado em cerca de 4,4 milhões de euros, que teria de ser pago caso La Pulga se lesionasse. A federação argentina não tinha dinheiro para correr este risco e, por isso, Grondona decidiu pagar 10 mil dólares (ou quase nove mil euros) a cada jogador irlandês, para que “não tocassem em Messi”. É esta a história contada por Ezequiel Fernández Moores, jornalista do La Nácion.
A federação irlandesa de futebol, entretanto, já negou quaisquer pagamentos e, em comunicado, escreveu que o artigo do jornal argentino “não tem fundamento”. A entidade até alegou que o amigável frente à Argentina foi, na altura, anunciado antes do play-off de apuramento para o Mundial (no final de 2009). Julio Grondona é que não poderá a esclarecer o que quer que seja: o dirigente faleceu a 30 de julho de 2014, quando ainda era presidente da Associação de Futebol Argentino.