“O pior pesadelo” de governos como os de Portugal, Espanha, Itália e Irlanda “teria sido o nosso sucesso“, diz Yanis Varoufakis, numa entrevista à britânica NewStatesman. “Se tivéssemos conseguido negociar um acordo melhor, isso iria obliterá-los politicamente – porque os seus concidadãos iriam perguntar-lhes porque é que não estavam a negociar como nós”, explica o ex-ministro das Finanças, que reconhece que teria sido “um milagre” se a Alemanha tivesse aceitado um perdão de dívida nesta altura.
O governo grego rompeu, no final de junho, as negociações com os representantes dos credores porque não estava a existir abertura para que se discutisse uma solução imediata para aliviar o peso da dívida pública grega. Apesar de haver aproximação na questão das reformas, algo que Varoufakis reconheceu, o governo grego insistia num compromisso concreto e imediato com a reestruturação da dívida e, por não haver abertura para isso, convocou o referendo de dia 5 de julho. O resto da história é conhecido, com o lançamento de controlos de capitais, bancos fechados e instabilidade generalizada.
Agora, Yanis Varoufakis – que se demitiu no dia seguinte ao referendo apesar da vitória do Não – diz que “teria sido um milagre” que a Alemanha tivesse aceitado uma reestruturação da dívida.
Em entrevista à NewStatesman, feita horas antes do acordo desta madrugada, Varoufakis diz que uma das consequências desse “milagre”, se tivesse acontecido, era que os “inimigos mais enérgicos” do governo grego – os espanhóis, os portugueses, os italianos e os irlandeses – iriam ser “obliterados, porque os seus concidadãos iriam perguntar-lhes porque é que não estavam a negociar como nós”.
Mas Varoufakis já sabia que, mesmo havendo um acordo como o que houve esta madrugada, a reestruturação da dívida não estaria contemplada. “Tenho confiança e esperança de que o nosso governo irá insistir na reestruturação, mas não vejo como o ministro alemão algum dia aceitará isso. Se isso acontecer, será um milagre”.
No final da reunião desta madrugada, Alexis Tsipras adiantou que o seu governo conseguiu uma “vitória” no campo da reestruturação da dívida, sendo posteriormente explicado que a Europa se dispôs a aumentar o período de graça que existe no pagamento de juros por parte da Grécia e a alargar os prazos de pagamento. Um perdão direto, ou seja, um corte no valor nominal da dívida, estava “fora de questão”, disse Merkel depois do acordo.