90 minutos de jogo, com intervalo e flash interview no fim. Assim vai ser o duelo televisivo entre Passos Coelho e António Costa, o primeiro de sempre entre os dois. A final, essa, joga-se só daqui a um mês, a 4 de outubro, mas esta quarta-feira disputa-se a primeira eliminatória. Sem agenda pública para quarta-feira, os dois candidatos não vão treinar em público nas vésperas do duelo para evitar o risco de lesões. As audiências é certo que vão bater recordes, com a partida a ser transmitida em simultâneo pelos três canais de televisão generalistas. As sondagens apontam para o empate, mas Costa disse ontem que só joga para ganhar. Prognósticos, como se sabe, só no fim do jogo.

A estreia é absoluta. Com Costa fora do Parlamento, nunca antes o primeiro-ministro e o secretário-geral socialista se defrontaram. Nos embates quinzenais no Parlamento, era o líder parlamentar Ferro Rodrigues quem falava em seu nome. E, sendo Costa líder do partido há menos de um ano, não foram muitas as ocasiões onde os dois estiveram nem lado a lado, nem frente a frente.

“Há os que se podem entusiasmar pelos comentadores e jogar para o empate, mas nós, no PS, o que nos entusiasma não são os comentadores, mas são os eleitores. Não jogamos para o empate, jogamos para ganhar”, disse Costa no domingo em Vila Pouca de Aguiar.

Ao fundo, a pairar sobre o debate vai estar o empate técnico para o qual têm apontado as últimas sondagens. PS e coligação continuam muito próximos, estando agora separados por apenas um ponto percentual (o PS com 36% das intenções de voto e a coligação com 35% segundo o barómetro da Eurosondagem). A isto acresce o facto de Pedro Passos Coelho ter atingido pela primeira vez um saldo positivo de popularidade, ainda que se mantenha longe do saldo de 22,4% de popularidade que é atribuído a António Costa.

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Tudo razões para que as expetativas estejam ao rubro. Pode não ser o tudo ou nada, mas um duelo televisivo organizado com pinças e transmitido nos três canais generalistas, pode mesmo fazer a diferença. Os dois candidatos a primeiro-ministro sabem disso e vão abrandar o ritmo de campanha esta terça e quarta-feira para terem mais tempo para se preparar e acertar os detalhes da estratégia. Tanto Costa como Passos não têm agenda pública para o dia do debate.

Entre o trabalho de caso e o optimismo

Segundo confirmou o Observador junto de fonte da campanha, amanhã e quarta-feira Costa não deverá sair do Largo do Rato, dedicando estes dois dias a reuniões e trabalho de gabinete. De resto, é pública a sessão de media training que Costa terá tido com o seu amigo e especialista em comunicação António Cunha Vaz. Segundo o Diário de Notícias, a sessão terá tido a duração de uma hora, onde Costa recebeu conselhos e terá mesmo feito uma simulação de entrevista. Esta segunda-feira, no entanto, falando aos jornalistas em Lamego, Costa mostrou-se descontraído e despreocupado: “Por mim, o debate podia ser já”, disse, pedindo “elevação e cordialidade”.

Passos tem agenda para esta segunda-feira ao final da tarde, e na terça-feira tem uma audiência com o Presidente da República do Senegal. Para o dia do debate, no entanto, não tem nada marcado na qualidade de primeiro-ministro.

Entre a candidatura da coligação Portugal à Frente, reina o optimismo. Os conselheiros insistem que o primeiro-ministro tem muita experiência de debates e entrevistas e que não há segredos na manga. “Vai para o debate sem papéis. Vai só com uma folha branca e caneta”, afirma ao Observador fonte próxima de Passos.  A estratégia em termos de mensagem, essa, está assente há muito: encostar Costa a uma governação despesista que pode levar o país a um novo resgate. O último pretexto tem sido as propostas do PS para a segurança social, tema que irá certamente a jogo na quarta-feira à noite.

O nome de Sócrates, já se viu, não é tabu. Isto porque, com o ex-primeiro-ministro já em casa, PSD/CDS têm atacado diretamente as políticas da anterior governação, que consideram ser as políticas que o PS quer seguir e que conduzem, dizem, a inevitáveis maus resultados. Em entrevista à CMTV, no sábado, Passos insistiu que vai combater todos aqueles que seguem “ideias próximas de Sócrates”. E, no dia seguinte, foi a vez de Paulo Portas: “Achei que a sua política levaria Portugal à ruína – e levou mesmo”.

Entrevistadores distribuídos por temas

O debate vai ter lugar no Museu da Eletricidade e vai ser transmitido simultaneamente pelos três canais generalistas. Ou seja, sem grande escapatória possível para o telespetador. Segundo confirmou o Observador junto da RTP, a partida tem data de início marcada para as 8h30, e de fim para as 9h50, tendo por isso uma duração aproximada de 90 minutos. No meio, algo inédito: um curto intervalo, que não deverá dar tempo para receber instruções do treinador.

A arbitrar a partida estará um jornalista de cada estação – Judite de Sousa, da TVI, Clara de Sousa, da SIC, e João Adelino Faria, da RTP -, sendo que cada um terá três temas. As perguntas são feitas à vez, consoante os temas, e Passos e Costa terão dois minutos e meio para responder, mais um minuto de meio de réplica. Os tempos são assim mesmo, cronometrados.

No final, tal como no futebol, haverá espaço para medir rapidamente o pulso aos candidatos numa espécie de flash interview – espaço onde Passos e Costa deverão deixar as primeiras impressões sobre o duelo, ainda a quente.