Que o Mario é a mascote mais poderosa do mercado dos videojogos já todos sabemos. O simpático canalizador é o expoente máximo da indústria e é reconhecido por gente de todas as idades, ainda que muitas nunca tenham jogado um único jogo seu. Foi criado em 1981 para o jogo Donkey Kong (onde, à época, respondia pelo nome Mr. Jumpman), passou por uma série de presenças nas consolas Game & Watch da Nintendo até que em 1985 é lançado Super Mario Bros. para a NES, a consola de 8 bits que em muitos aspectos permitiu à indústria dos videojogos ser o colosso económico que é hoje.

A recuperação após o crash económico

Após um gigantesco crescimento nos primeiros anos da década de 1980, onde as receitas anuais da indústria atingiram máximos históricos, houve uma grande recessão entre 1983 e 1985 que quase destruiu o mercado dos videojogos nos EUA. A expansão que a Atari (e outras concorrentes) tiveram e a facilidade em produzir e distribuir jogos para a consola conduziu a uma saturação do mercado, onde jogos de baixa qualidade abundavam, levando a uma quebra de confiança e vendas de uma indústria que se tentava afirmar. É com o lançamento da NES em 1985 no território norte-americano (consola essa que tinha sido lançada dois anos antes no Japão sob o nome Famicom) que o mercado rejuvenesceu: a política de licenciamento de produção de jogos que a Nintendo imputou ao seu sistema obrigou a um controlo de qualidade muito apertado, que acabou por reconquistar a confiança do mercado.

Se a NES foi um tremendo sucesso em todo o mundo e revitalizou as vendas de videojogos nos EUA, parte dessa vitória deve-se a um jogo emblemático: Super Mario Bros. Este que foi durante décadas o jogo mais vendido de sempre, e que poderá ser a primeira grande memória que muitas pessoas têm de videojogos. E para além de ser um marco da nossa memória, o jogo criado pelos emblemáticos game designers Shigeru Miyamoto e Takashi Tezuka trouxe revoluções criativas e técnicas aos videojogos que hoje consideramos lugares-comuns. O facto de o jogo se desenrolar num sistema de side-scrolling e não num ecrã único como os jogos até então, resultou numa abertura de mundo virtual como nunca visto. E, é claro, o poder gráfico de Super Mario Bros. que puxava os limites de hardware da NES para uma zona incomparável a outras consolas ou computadores, ajudando a dar força a uma das séries mais influentes da história dos videojogos.

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A série mais influente de toda a indústria?

Como mascote com um valor incalculável, Mario foi utilizado ao longo destes 34 anos (desde a sua aparição na máquina de arcada de Donkey Kong) em largas dezenas de títulos. Mas a série principal, Super Mario, foi a espinha dorsal da Nintendo, o baluarte e jóia da coroa, aquele em que muitos dos avanços feitos para toda a indústria têm ocorrido. Dos quase vinte jogos que compõem a série ao longo destes trinta anos, de muitas e distintas plataformas da Grande N para onde foram lançados, o nome de Miyamoto e Super Mario são sinónimos de inovação, qualidade e redefinição da indústria. Foi assim com Super Mario Bros. de 1985, foi assim com Super Marios Bros. 3 de 1988 com o seu mundo gigantesco (para a época, e que ainda hoje é o meu jogo favorito de todos os tempos), foi assim com com Super Mario 64 de 1996 que deixou críticos e comunidade boquiabertos com o salto gigantesco de qualidade e aperfeiçoamento que conduziu aos jogos tridimensionais, e foi assim com Super Mario Galaxy de 2007, reinventando um género e elevando a fasquia conceptual dos videojogos para um novo patamar.

A história dos videojogos escreve-se com Super Mario

Foi na apresentação digital da E3 2014 que Super Mario Maker (SMM — denominado originalmente apenas como Mario Maker) foi anunciado. O que inicialmente aparentava ser um mera aplicação de criação de níveis do clássico Super Mario Bros. foi apresentado um ano depois no Nintendo Direct pelos históricos Miyamoto e Tezuka como algo mais: uma verdadeira celebração dos trinta anos da série (aniversário comemorado no último dia 13 de Setembro) já que SMM permite criar níveis de vários momentos diferentes da história da série.

Referi na análise do evento digital aquele que para mim era um verdadeiro marco histórico para todos os amantes dos videojogos: a exposição das folhas quadriculadas manuscritas e desenhadas pelos dois autores na criação dos níveis de Super Mario Bros. que todos conhecemos. Tornar público esse tipo de material (que está impresso no livro que acompanha a Edição Especial de Super Mario Maker, ou que pode ser gratuitamente descarregado no site da Nintendo americana) é dar acesso a uma camada de produção de um dos jogos emblemáticos da história.

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Super Mario Maker: a diversão partilha-se com a família

Super Mario Maker da Wii U, o jogo comemorativo dos trinta anos de Super Mario é muito mais do que qualquer jogador poderia esperar. Se existiu uma visão algo redutora sobre SMM de o confinar a estatuto de mera aplicação de edição de níveis (como eu inicialmente fiz — e aproveito para assumir o devido mea culpa), o lançamento final do jogo provou-nos a todos o nosso erro: SMM não só dá acesso a todos os jogadores e fãs da Nintendo à criação e utilização de pedaços da história, mas é potencialmente um dos melhores jogos para consolas domésticas hoje presentes no mercado. Começando pela componente de longevidade, que graças às características do jogo têm virtualmente infinitas horas de jogabilidade.

A componente social e festiva do jogo (uma vertente que costuma ser a tónica das produções da Nintendo) está bem presente: a experiência que temos tido nestes dois meses de utilização de SMM (recebemos o jogo semanas antes do lançamento pelas mãos da Nintendo Portugal) diz-nos que estão garantidas muitas gargalhadas ao construir níveis de grande dificuldade, seguidas do desafio aos nossos amigos e família para ultrapassá-los. E Super Mario Maker é simultaneamente tão familiar (porque todos nós, sem excepção, já contactámos com o Super Mario algures na vida) que qualquer pessoa facilmente pega no Game Pad da Wii U e tenta criar ou ultrapassar alguns dos milhares de níveis criados por jogadores de todo o mundo.

Super Mario Maker é uma forma de celebrar uma série, um personagem e uma companhia que são parte indivisível da evolução dos videojogos. Ao lado de tantos jogos que definem o que é a história de algo tão recente quanto os videojogos, Super Mario Maker é obrigatório em todas as casas, estando indicado para todas as idades.E é a comemoração da mais elementar função dos videojogos: a diversão, trazendo-a novamente para toda a família.

Ricardo Correia, Rubber Chicken