A animada corrida ao lugar de candidato republicano às presidenciais norte-americanas do próximo ano tem sido dominada pelo que diz Donald Trump, e especialmente como o diz, e pelos candidatos mais à direita sem experiência à política. No debate promovido esta madrugada pela televisão CNBC, a narrativa mudou e em vez de ser apenas em torno de Donald Trump, foi a vez dos outros.

Quando a campanha começou a aquecer, cedo para o habitual, foram tantos os republicanos que acharam que tinham hipótese de serem nomeados que as televisões tiveram de partir o debate em dois. Dos dezassete, dois já desistiram e esperam-se que mais alguns sigam o seu caminho, algo que ajuda a perceber o debate desta madrugada.

De um lado, os três candidatos que mais projeção têm tido: Donald Trump, porque cada vez que fala ofende um grupo especial de eleitores (às vezes até os seus adversários no campo republicano); Ben Carson, o cirurgião, mais moderado no estilo que Trump (nas posições, nem por isso…); e Carly Fiorina, a antiga gestora situada igualmente no espectro mais à direita e que tem ganhado notoriedade com a sua prestação nos debates televisivos.

Os olhos estavam postos novamente neste pequeno grupo. Donald Trump e Ben Carson continuam no topo das intenções de voto, mas com Carson a conseguir a espaços surgir em primeiro lugar, algo impensável há uns meses. No entanto, e pela primeira vez, foram os políticos com mais experiência quem dominaram o debate.

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Ted Cruz, o senador do Texas que é apoiado pela franja mais à direita do partido, o Tea Party, que tem abalado a forma de fazer política em Washington, ganhou notoriedade na contenda e arrancou o aplauso da noite atacando… os moderadores.

“As questões que estão a ser colocadas neste debate até agora mostram porque o povo americano não confia na comunicação social. Isto não é uma luta numa jaula. Reparem nas perguntas – Donald Trump, é você um vilão de banda desenhada? Ben Carson, sabe fazer contas? John Kasich, pode insultar estas duas pessoas aqui? Marco Rubio, porque não se demite? Jeb Bush, porque caíram os seus números? E que tal falarmos de questões importantes?”, atirou Ted Cruz.

O aplauso foi estrondoso na sala e a atitude muito parecida à do candidato democrata Bernie Sanders no debate com Hillary Clinton, quando este disse que o povo americano estava farto de ouvir falar da polémica dos mails da ex-secretária de Estado norte-americana.

Ted Cruz foi aclamado como um dos vencedores do debate na CNBC, e a cadeia – vista como sendo a situada mais à esquerda – tem sido atacada pelos republicanos e considerada a grande derrotada.

O outro grande vencedor da noite foi Marco Rubio. O senador da Florida protagonizou um dos momentos da noite quando foi atacado por Jeb Bush, seu amigo e quem considera um mentor, sobre os votos que tem falhado no Senado por estar em campanha.

Pressionado pelos seus apoiantes, em especial os que estão a financiar a sua campanha, devido aos maus resultados que tem conseguido, Jeb Bush precisava de um momento de destaque e decidiu tirar as luvas para atacar o amigo. Aproveitando a deixa da CNBC, que confrontou Marco Rubio com as faltas no congresso e que muita tinta tem feito correr nos jornais, Jeb Bush atacou o amigo dizendo que este devia demitir-se de senador se queria fazer campanha, já que o tinham elegido para defender o seu Estado.

Mas Marco Rubio não se deixou ficar e respondeu à altura, lembrando o terceiro elemento do clã Bush que quer ser presidente que o próprio Jeb Bush diz estar a modelar a sua campanha pela de John McCain, que teve o mesmo problema com faltas no Senado, e que só o estava a atacar porque os seus consultores o tinham convencido que um ataque a Rubio seria bom para Bush. No final, foi Jeb Bush a ficar mal na fotografia, até porque a pressão sobre Bush começa a ser pública e os seus apoiantes podem passar para o campo de Marco Rubio.

Trump parece estar a perder força

Os habituais cabeças de cartaz nos debates republicanos passaram completamente ao lado do debate. Donald Trump parece estar a perder força e voltou com as ideias de sempre, como a de construir um muro na fronteira com o México, e tentou fazer mais declarações polémicas – como que permitiu a posse de arma nos seus resorts e hotéis – mas não resultou da mesma forma.

Ben Carson optou pela discrição e deixou-se à margem dos ataques, aproveitando o facto de os seus números nas sondagens estarem a crescer independentemente da sua prestação nos diferentes debates. Carly Fiorina esteve igual a si mesma, mas desta vez as atenções estiveram do lado dos candidatos do “sistema”.

Ted Cruz e Marco Rubio estarão a aproveitar a atual situação para se posicionarem como as alternativas mais viáveis quando alguns dos candidatos começarem a desistir da corrida. Ted Cruz parece estar a apostar na queda de Donald Trump e no apoio da fação mais conservadora do partido, sendo que o próprio partido não vê com bons olhos a candidatura de Trump. A questão é se os estragos feitos nesta fase da campanha podem ser revertidos após as primárias, já que para captar eleitores à mais à direita, os candidatos não-políticos (especialmente Trump) têm alienado o centro, essencial para ganhar uma eleição para presidente da maior potência mundial.

Já Marco Rubio centra as suas atenções na parte mais moderada do partido – a mais centrista -, com os apoiantes de Bush a olharem para jovem senador da Florida como a melhor alternativa ao irmão e filho dos presidentes número 43 e 41.