Um dia depois das forças turcas abaterem um avião militar russo que terá entrado, sem autorização, no espaço aéreo da Turquia, o Presidente da Turquia defendeu o ataque – mas garantiu que não quer que as tensões aumentem entre os dois países. Barack Obama e a NATO aceitam as justificações da Turquia, também pedem calma, mas o primeiro-ministro russo garantiu que as relações nunca mais serão as mesmas.

Ainda há muito por esclarecer. O que se sabe é que perto das 07h00 (hora de Lisboa) de terça-feira, um caça russo foi abatido por dois F-16 turcos e acabou por cair em território sírio. Desse ponto em diante, cada um tem a sua versão e elas não batem completamente certo.

A Turquia diz que o caça russo ignorou repetidamente os avisos das forças turcas – 10 avisos em cinco minutos – e que invadiu o espaço aéreo turco, o que não era a primeira vez que acontecia. 

Do lado russo, a história é diferente. O caça russo nunca entrou em território turco, os militares estariam a combater membros do Estado Islâmico, em especial combatentes estrangeiros russos, e foi abatido na Síria.

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De acordo com a Reuters, que cita responsáveis norte-americanos, a verdade está algures no meio, já que terá sido possível confirmar que o caça russo terá entrado no espaço aéreo turco, sem autorização, mas por breves 17 segundos, sendo abatido já em território sírio, onde acabaria por se despenhar.

Depois de palavras muito duras de Vladimir Putin, em que até acusou a Turquia de ser cúmplice dos terroristas do Estado Islâmico, e do primeiro-ministro turco a dizer que o regime tinha todo o direito de abater o avião, começaram a chegar pedidos de calma.

EUA e França tentam… água na fervura

O Presidente da Turquia, que comentou hoje o incidente, garantiu que a Turquia não tem qualquer intenção que o incidente passe disso mesmo, mas defendeu a decisão do seu Governo. “Não temos qualquer intenção de fazer escalar este incidente. Nós estamos apenas a defender a nossa segurança e os direitos dos nossos irmãos”, afirmou Recep Tayyip Erdogan, em declarações a um canal de televisão turco, acrescentando que ninguém pode ficar à espera que a Turquia “fique em silêncio” quando a segurança fronteiriça é violada.

Também durante a visita do presidente francês, François Hollande, a Washington, para um encontro com Barack Obama, os dois governantes apelaram a que se evite a escalada de tensão entre a Turquia e a Rússia e que todos os países devem trabalhar em conjunto para lutar contra o Estado Islâmico.

Hollande disse mesmo que “apenas podemos lamentar” o despenhamento do avião russo, revelando também que a NATO continua a receber informação para perceber o que realmente se passou.

Já o presidente americano compreende que a “Turquia, tal como qualquer outro país, tem o direito de defender o seu território e o seu espaço áereo” admitindo porém que ainda não possui nenhuns dados específicos sobre o incidente.

Troca de palavras entre Turquia e Rússia continua

Apesar dos apelos à calma, a troca de declarações, e o aumento da tensão institucional, não se ficou por aqui. Putin veio novamente a público para recomendar à população russa a não viajar para a Turquia, que é um dos principais destinos de férias dos russos. “O que podemos fazer depois de acontecimentos tão trágicos, a destruição das nossas aeronaves e a morte de um piloto? Esta é uma condição necessária (dissuadir os russos a viajar para a Turquia). O que o Ministério dos Negócios Estrangeiros tem de fazer é alertar os nossos cidadãos do perigo”, afirmou o presidente da Rússia em declarações a uma televisão do país.

Também o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, reagiu duramente ao incidente. Citado pela agência EFE afirmou que as relações do país com a Turquia sofreram um “dano difícil de reparar”. Mais do que isso, Medvedev, realçou que “as boas relações de vizinhança entre Rússia e a Turquia, incluindo nos campos económicos e humanitários sofreram um solavanco”, classificando as ações das autoridades turcas de “insensatas e criminosas”. Para além de tudo isto o primeiro-ministro sugeriu, à semelhança de Putin, que a Turquia defende o Estado Islâmico argumentando que se deve ter em conta “os dados sobre os interesses financeiros diretos de alguns altos cargos da Turquia, vinculados ao fornecimento de petróleo produzido em refinarias controladas pelo Estado Islâmico”.

No entanto, este quebrar de relações entre os dois países pode ter consequências práticas. E essas, segundo Medvedev, podem passar pela “renúncia de uma série de importantes projetos conjuntos e da perda das posições que as companhias turcas têm no mercado russo”. 

Um dos pilotos pode ter sido resgatado

Um piloto do Su-24 russo, que foi abatido pelas forças turcas, morreu. Mas um segundo militar presente no avião pode ter sobrevivido tendo sido resgatado pelo exército sírio.

Quem o afirmou foi o embaixador da Rússia em França, Alexandre Orlov que, em declarações à rádio francesa Europe 1, revelou que o segundo piloto “conseguiu escapar e, de acordo com as últimas informações de que dispomos, foi resgatado pelo exército sírio e será levado para a base aérea russa”.

Apesar disto, o ministro da Defesa russo já anunciou um reforço dos meios militares na base aérea de Khmeimim na Síria. Aqui localiza-se um centro de operações da Rússia no país, que vai ter, agora, um sistema de defesa com mísseis ar-terra com um alcance variável entre os 40 e os 400 km.