“Estou triste. Este ano será diferente. Não poderei fazer os pastéis de bacalhau nem o bacalhau à Gomes de Sá, porque não se consegue bacalhau em nenhuma parte. O bacalhau sempre foi caro, mas mesmo caro não há”, disse Conceição Aguiar, 60 anos, salientando que não há ovos nos mercados e existem outros produtos a preços incomportáveis como o azeite.

No outro dia vi uma garrafa de litro de azeite português e quando perguntei o preço disseram-me quase 8.000 bolívares (1.164 euros à taxa oficial de 6,30 bolívares por dólar americano, aplicada para as importações prioritárias), imagine isso é o salário de um mês, é impossível comprar”, explicou admitindo que os azeites de outros países custam 30% menos.

A portuguesa responsabiliza o Executivo pela escassez, porque “obrigaram os produtores e comerciantes a baixar o preço e as pessoas foram a correr comprar” o que havia em armazém.

“Não é só o bacalhau que leva ovos, os bolos, as filhós e as broas também. Cada vez que me dizem que estão a vender ovos num supermercado vou correndo mas quando chego as filas são enormes e não tenho tempo para esperar várias horas até que chegue a minha vez”, disse.

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Por outro lado Lourdes Andrade, 55 anos, explicou que optou por “algo mais venezuelano, as ‘hayacas'”, uma espécie de massa de milho recheada com carne de vaca, de porco, de frango, azeitonas, pimentão, cebola, uvas passas, ovo cozido, e cozida envolvida em folha de banana-pão.

“Mesmo [um Natal] à venezuelana tudo está caro, um quilograma de carne custa mais de 1.000 bolívares (145 euros). E ainda falta o tradicional pão de fiambre, a salada de galinha e as fatias de papaia verde adoçada”, frisou.

Questionado sobre a falta de bacalhau no mercado venezuelano o empresário José Luís Ferreira, presidente da Academia do Bacalhau de Caracas, explicou à Agência Lusa que o problema tem a ver com a importação.

“Não há divisas (dólares para importação) e se não há divisas os empresários não podem importar. Além disso, para ter autorização para poder importar bacalhau é preciso fazer um processo que passa pela obtenção de um certificado” que confirme que não há produção nacional daquele nem, disse. E quanto ao azeite explicou que, desde há vários meses, não há importação de marcas portuguesas.

Na Venezuela vigora, desde 2003, um sistema de controlo cambial, que impede a livre obtenção local de moeda estrangeira e obriga os empresários a pedir autorizações para aceder aos dólares para importar.

O sistema de controlo cambial inclui três taxas oficiais de 6,30, 13,00 e 200,00 bolívares por cada dólar americano, aplicados a importações prioritárias, turismo e outras importações, respetivamente. Além disso existe o mercado paralelo do dólar cujo valor ronda os 860,00 bolívares.

Na Venezuela residem, oficialmente, quase 600.000 portugueses, número que a própria comunidade diz estar aquém da realidade, insistindo que rondam os 1,5 milhões, incluindo os luso-descendentes.