O CDS queria convocar uma reunião de urgência da comissão permanente do Parlamento para ouvir o Governo sobre o caso das viagens de três secretários de Estado ao Euro 2016, pagas pela Galp, mas PCP e Bloco de Esquerda estão a pôr outro tema na lista das prioridades: os incêndios que estão a deflagrar no continente e na Madeira, empurrando o “Galgate” para setembro. O assunto vai ser discutido esta tarde, às 18h, na reunião da conferência de líderes, sendo que o regimento da Assembleia da República estabelece que, à falta de consenso, as decisões são tomadas por maioria. Ou seja, a decisão da esquerda prevalece.

A posição, primeiro do PCP, e depois do BE, é clara e coincidente: “A prioridade é a reunião sobre a questão dos incêndios. A comissão permanente de setembro [já marcada para 8 de setembro] pode discutir a situação das viagens da Galp”, afirmou ao Observador fonte do Bloco de Esquerda. Em comunicado, divulgado esta manhã, os bloquistas davam conta da intenção de levar à conferência de líderes desta tarde “a proposta de marcação urgente de uma reunião da Comissão Permanente para que possa ser discutido, juntamente com o Governo, o combate aos incêndios e o acionamento de planos de reconstrução para as áreas ardidas e de programas de apoio a todas as populações afetadas, especialmente as que perderam as suas habitações”.

Antes já o PCP tinha feito um pedido no mesmo sentido, com o deputado António Filipe a manifestar à agência Lusa a intenção de encontrar junto dos restantes partidos “uma forma muito ágil de obter do Governo um ponto de situação sobre os fogos florestais e esta situação no Funchal, muitíssimo grave”. Seria, na ótica dos comunistas “uma reunião urgente com a Administração Interna, seja a ministra ou o secretário Estado”, que se realizaria idealmente “ainda esta semana, possivelmente sexta-feira, com deputados de todos os partidos”.

Questionado sobre o facto de o CDS já ter requerido a convocação da Comissão Permanente para tratar de outro assunto, do caso das viagens dos governantes pagas pela Galp, António Filipe foi perentório: “Não há razão para alterar a data prevista para a reunião da Comissão Permanente do Parlamento [marcada para 8 setembro]”, disse, mantendo ainda assim a “posição crítica” que o PCP tem manifestado sobre o facto de membros do executivo socialista terem viajado a França através de ofertas da Galp. Dentro dos partidos que apoiam o Governo o PCP tem sido o mais crítico na polémica das viagens ao Euro.

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Tendo como prioridade a questão dos incêndios, os partidos mais à esquerda preparam-se assim para defender na conferência de líderes desta tarde a marcação de uma reunião parlamentar para tratar desse assunto, fazendo deslizar o assunto Galp para a reunião seguinte, a última antes do arranque regular dos trabalhos. PSD e CDS, segundo apurou o Observador, ainda não decidiram o que vão fazer, não querendo abrir mão dos esclarecimentos sobre o dossiê Galp.

Certo é que o problema dos incêndios é transversal às questões partidárias e nenhum dos partidos se vai opor a que os deputados e membros do Governo se reúnam a título excecional para discutir a estratégia de combate aos fogos. Ao Observador, fonte do CDS garante que, apesar de ter requerido a reunião urgente sobre o dossiê Galp, o CDS apoia a realização de uma reunião parlamentar sobre a questão dos incêndios, uma vez que essa é uma prioridade indiscutível para o país: “É tempo de combater esta tragédia e prestar a nossa solidariedade com os bombeiros, proteção civil, autarcas e populações”.

Em termos regimentais, a Comissão Permanente pode ter mais do que um tópico na agenda, podendo teoricamente ser discutidos os dois assuntos na mesma reunião extraordinária. Essa hipótese está a ser equacionada à direita, mas ainda sem decisão. PSD e CDS só se pronunciam sobre a proposta da esquerda de ouvir o Governo sobre os fogos ao final da tarde, depois da reunião entre os representantes de todos os partidos e o Presidente da Assembleia da República.