O primeiro-ministro português, António Costa, admitiu esta quarta-feira em Macau que a base aérea das Lajes pode ser usada pela China se os Estados Unidos não renovarem o acordo de exclusividade, mas apenas para fins científicos e não militares.

“Temos um acordo com os Estados Unidos, e queremos continuar com esse acordo, mas respeitamos a decisão” dos norte-americanos, disse António Costa numa entrevista difundida hoje pela agência de informação financeira Bloomberg.

“A base nos Açores é muito importante em termos militares, mas também em termos de logística e tecnologia e pesquisa nas águas profundas e de alterações climáticas”, disse António Costa.

Perante a insistência do jornalista da Bloomberg sobre a utilização da base aérea pela China, Costa admitiu: “Claro que é uma boa oportunidade para criar uma plataforma de pesquisa científica e estamos abertos a cooperação com todos os parceiros, incluindo a China”.

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O primeiro-ministro, na entrevista que concedeu à Bloomberg em Macau, vincou, no entanto, que “o uso militar da base não está em cima da mesa, o que está em cima da mesa é reutilizar a infraestrutura para fins de pesquisa”.

“Seria uma enorme pena não usar a infraestrutura, e se não para fins militares, porque não para pesquisa científica”, questionou o chefe do Executivo no final da entrevista.

Esta possibilidade já tinha sido admitida pelo congressista lusodescendente Devin Nunes, no final de setembro, como contava a agência Lusa. “Como muitos no Congresso avisaram no passado, vários altos-representantes chineses visitaram os Açores em anos recentes. Sei agora que a China enviou uma delegação de cerca de 20 representantes, todos fluentes em português, numa viagem de pesquisa que durou semanas e que culmina com a visita do primeiro-ministro, Li Keqiang”, revelava Devin Nunes numa carta enviada a Ashton Carter, secretário da Defesa dos Estados Unidos.

Ainda no final de setembro, o órgão de comunicação Politico dava destaque a esta aproximação entre Portugal e China, falando da ameaça que a utilização da Base das Lajes por Pequim poderia representar para os Estados Unidos. O título era paradigmático: “Escala chinesa no Atlântico preocupa Washington”.

O jornal Público recorda, esta quarta-feira, as sucessivas viagens de comitivas chinesas à Base das Lajes. De 2012 até este ano, foram já três as visitas de altos representantes do Estado chinês à ilha Terceira. Primeiro, em 2012, o então primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, e uma comitiva de mais de cem pessoas fez uma escala de cinco horas nas Lajes. O mesmo aconteceu em 2014, desta vez com o presidente chinês Xi Jinping, que se reuniu com o então vice-primeiro-ministro português, Paulo Portas.

Este mês foi a vez de Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, receber na ilha Terceira Li Keqiang, primeiro-ministro chinês, que ali fez uma escala de dois dias.

Augusto Santos Silva nunca se pronunciou concretamente sobre o suposto interesse da China nas Lajes. “Eu não sei se há interesse chinês nas Lajes. O que sei é que o único interesse português é que ela seja aproveitada plenamente no quadro do acordo de cooperação e defesa que temos com os Estados Unidos”, disse o ministro, em delcarações à Lusa.