Dezenas de quadros falsos de Júlio Pomar, Malangatana, Amadeo Souza Cardoso, Cesariny ou Picasso foram apreendidos na última década pela Diretoria do Norte da Polícia Judiciária em antiquários, galerias, feiras e residências por uma “pequena”, mas “ativa” brigada.

“É uma brigada pequena, mas bastante ativa e todos os anos faz apreensões”, diz à Lusa Batista Romão, diretor da Unidade Territorial do Norte da Polícia Judiciária (PJ/Norte), assumindo que na última década os inspetores apreenderam “dezenas e dezenas” de obras de arte falsas, designadamente de pintores como Júlio Pomar, um dos artistas plásticos portugueses “mais falsificados”.

As obras de arte na mira dos investigadores são localizadas principalmente nos grandes centros urbanos, como Lisboa e Porto, em galerias de arte, leilões, feiras, exposições, antiquários. Até que a brigada, constituída por “meia dúzia de pessoas”, consiga chegar às peças falsificas, o trabalho de investigação é “demorado”, assume Batista Romão.

“De facto, quanto à investigação, é um trabalho é demorado. Um trabalho que exige muita perícia, muitos conhecimentos, muitos contactos, porque às vezes é difícil distinguir o original e porque há falsificações muito boas”, assume.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Segundo Batista Romão, a PJ tem de recorrer muitas vezes à ajuda dos próprios pintores. “Há falsificações más, que se distinguem facilmente. Há outras falsificações que se tem alguma dificuldade em entender, muitas vezes chamamos os próprios autores — quando são vivos — para poderem identificar, porque elas [as obras falsas] são de tal forma elaboradas que se exige esse tipo de trabalho”.

Algumas das obras atribuídas a Júlio Pomar foram alvo de reconhecimento pelo próprio mestre que confirmou à Judiciária que se tratava de “imitações grotescas”, recordou à Lusa o inspetor-chefe da brigada da PJ/Norte Pedro Silva.

Segundo este responsável, “mais de 100 obras” de Júlio Pomar falsificadas estavam num antiquário em Lisboa quando foram apreendidos em 2011 pela brigada de obras de arte da PJ/Norte antes de entrarem no mercado.

O mesmo aconteceu com um quadro de Amadeo Souza Cardoso apreendido pela mesma brigada quando estava para ser comercializado no mercado. Os investigadores socorreram-se então de especialistas na obra daquele pintor para fazer as perícias e determinar que a pintura não correspondia a um original.

Quadros de Malangatana, pintor moçambicano, Pablo Picasso, artista espanhol, ou de Mário Cesariny, surrealista português, também estão na lista de quadros apreendidos.

A falsificação de um quadro pode ser observada pela assinatura do pintor, pelo traço e estética do artista e, numa grande parte das vezes, pelos “materiais usados” pelos falsificadores que “não correspondem à época”, explicou o inspetor-chefe Pedro Silva.

Ao longo destes últimos dez anos, a apreensão de obras de arte pela brigada da Judiciária teve alguns, porque é um crime “cíclico”, como definiu à Lusa Batista Romão.

“Este tipo de crime tem a ver com o mercado e com a economia e, por isso, tem passado ciclicamente por períodos de aumento deste género de criminalidade e outros de retrocesso. Houve períodos em que se venderam e compraram muitas obras de arte, umas verdadeiras, outras falsificadas (…)”, conclui.