Peter Brill nunca se sentiu nazi, mas fez parte de um dos projetos secretos mais importantes do Terceiro Reich — os planos para enviar um bombardeiro da Alemanha até aos EUA, capaz de destruir Nova Iorque. Poucos sabiam da existência deste projeto, que nunca chegou a avançar: apenas seis pilotos estavam envolvidos no planeamento, e cinco deles morreram durante a Segunda Guerra Mundial. Peter Brill, que sempre sonhou ser piloto e encontrou no exército de Hitler a forma de concretizar esse desejo, foi o único a sobreviver à guerra, e, em 2010, revelou o segredo ao cineasta Laureano Clavero e ao historiador Pere Cardona.

A descoberta dos planos remonta precisamente a esse ano de 2010, altura em que o cineasta argentino Laureano Clavero estava envolvido num projeto relacionado com a queda de caças alemães em Espanha durante a Segunda Guerra Mundial. O projeto de bombardear os Estados Unidos era, nessa altura, uma espécie de lenda. “Estávamos a investigar o abate de dois bombardeiros alemães nos Pirinéus quando, enquanto procurávamos informações sobre pilotos alemães que vivessem em Espanha, nos falaram de Peter Brill no Aeroclube de Sabadell. Disseram-nos que pilotava avionetas e facilitaram-nos o contacto”, explica Clavero em entrevista ao jornal espanhol ABC.

Marcaram uma entrevista com Brill, que lhes revelou o segredo: tinha feito parte de um projeto nazi, que tinha como objetivo construir um bombardeiro capaz de atravessar o Atlântico e de chegar aos Estados Unidos — o Heinkel 177. Desde esse momento, o cineasta e o historiador mudaram o rumo da investigação, e começaram a analisar os detalhes do relato de Brill. Quando o antigo piloto morreu, em 2013, a família cedeu-lhes as memórias que o homem escreveu ao longo da vida. A idade avançada e o derrame cerebral que tinha sofrido afetaram-lhe a memória, e muito do trabalho dos investigadores foi o de cruzar datas e confirmar dados.

O resultado da investigação foi um livro — “O diário de Peter Brill” — em que o cineasta e o historiador contam a história do homem que queria ser piloto e acabou envolvido num projeto secreto. Passou a infância na Juventude Hitleriana, negando sempre a ideologia nazi. O seu cartão da Juventude Hitleriana ainda está novo, porque nunca andou com ele na carteira.

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el diario de peter bril

O sonho de ser piloto levou-o ao exército alemão, e em 1943 recebeu um convite que não teve hipótese de recusar. Foi recrutado para a missão megalómana de Hitler de enviar um Heinkel He 177 Greif até Nova Iorque. O problema: o avião tinha uma autonomia de, no máximo, 6.500 quilómetros, e a missão implicava que percorresse 12.000. “A ideia era poupar combustível durante o trajeto e, mediante uma série de modificações nos motores que estão explicadas de forma técnica no livro, chegar ao objetivo e dar a volta”, explicam os autores ao jornal espanhol.

O plano acabou por ser abandonado, quando Hitler teve de se focar na Batalha de Estalinegrado. Só depois do cancelamento da missão é que os pilotos souberam verdadeiramente em que consistia o projeto, e apenas Peter Brill chegou ao século XXI para contar a história.