A Organização não-governamental Projeto Global contra o Ódio e o Extremismo (GPAHE, na sigla em inglês) alertou que a ação de protesto anti-islâmico anunciada por militantes de extrema-direita constitui um risco de violência.

Numa investigação sobre o Grupo 1143, promotor do evento, o GPAHE conclui que “há razões para recear que um evento como o originalmente planeado para 3 de fevereiro possa degenerar em violência“, uma situação que se deve ao facto de os promotores, que “incluem entre as suas fileiras neonazis e skinheads“, terem “ligações históricas” à violência e a grupos de ódio, como os Hammerskins.

Os grupos online associados aos promotores possuem discurso de ódio contra minorias e imigrantes e têm feito várias ameaças, alerta a ONG na investigação divulgada na terça-feira.

“O facto de deixar marcas [em vários locais] com referências ao nazismo e o assédio ostensivo às minorias implica que uma manifestação num dos bairros mais multiculturais de Lisboa seria, no mínimo, provocatória”, refere o GPAHE.

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O grupo 1143 nasceu em 2003 dentro da claque Juve Leo, de que entretanto se separou, salienta o GPAHE, recordando que o grupo radical “ficou conhecido por usar como símbolos a caveira, a cruz suásticas e cruzes celtas, por ostentar tatuagens neonazis e uma faixa branca onde se lia ‘Sporting SSempre'”, numa referência às SS nazis, e por “cometer ataques racistas mesmo contra adeptos da sua própria equipa”.

O grupo, que o GPAHE diz ter sido “ressuscitado pelo infame neonazi português Mário Machado no final de 2023”, tinha “ligações explícitas à extrema-direita portuguesa e, mais especificamente, aos Hammerskins portugueses, o grupo de skinheads mais violento das últimas décadas em Portugal”.

A organização tem funcionado como uma ferramenta de recrutamento de neonazis, integrada em estruturas transnacionais racistas, refere a ONG, que cita documentos judiciais para justificar estas ligações.

A saída de Mário Machado da organização e a detenção de 20 hammerskins em 2016 pareceram indicar o fim do grupo que foi “reconstituído como um movimento político anti-islâmico” no final de 2023.

Segundo a análise do GPAHE, este novo Grupo 1143 é “ligeiramente mais diversificado e atraiu mais apoiantes fora dos círculos tradicionais da extrema-direita e neonazis que não se enquadram no estereótipo típico dos membros das organizações de rua de extrema-direita”.

“Vários membros atuais e antigos do partido político de extrema-direita Chega fazem parte do movimento, incluindo Rui Roque, conhecido por ter proposto uma moção numa convenção do Chega para remover os úteros das mulheres que fizeram um aborto, e que foi recentemente expulso do partido”, refere o GPAHE, que indica outros apoiantes dentro do grupo.

“Os membros mais radicais do grupo têm sido responsáveis pela recente vaga de grafítis de rua com os símbolos do 1143, pela destruição de bandeiras LGBTQ+ e pelo assédio a minorias em todo o país”, pintando ‘slogans‘ como “Portugal aos Portugueses” ou a cruz celta neonazi em Braga e Guimarães.

Na sua análise, o GPAHE percorre alguns perfis pessoais dos apoiantes do grupo nas suas redes sociais e identifica o uso de símbolos partidários e de extrema-direita.

Na terça-feira, o Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa confirmou a entrada de um recurso de Mário Machado a contestar a proibição da manifestação “Contra a islamização da Europa”.

Mário Machado, que já foi condenado a quatro anos e três meses de prisão por ofensas corporais no contexto do processo de um homicídio por ódio racial, apresentou uma “intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias”, exigindo a revogação da proibição da Câmara de Lisboa da manifestação para 3 de fevereiro, na zona da Mouraria.

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Perante a proibição, o grupo 1143 — cujo nome evoca o acordo de Zamora de 1143, em que Portugal obteve a independência — já prometeu uma “ação de protesto” com as mesmas motivações para 3 de fevereiro, às 18h00, em Lisboa, mas sem anúncio do local.