Passados 400 anos da morte de William Shakespeare, a identidade do dramaturgo inglês permanece um mistério. Teorias não faltam, das mais simples às mais elaboradas — uns dizem que Shakespeare era Francis Bacon, a Rainha Isabel I disfarçada e até um francês chamado Jacques Pierre. Uma das mais populares sempre foi a de que Shakespeare seria um pseudónimo de Christopher Marlowe, poeta e dramaturgo seu contemporâneo. Teoria que uma nova investigação veio provar não estar assim tão errada.

Recorrendo a tecnologia de ponta, uma equipa de 23 investigadores de diferentes países, que trabalharam em conjunto na nova edição da obra completa de Shakespeare da Oxford, chegou à conclusão de que Marlowe foi co-autor das três partes que compõem a peça histórica Henrique VI. A suspeita existia, pelo menos, desde o século XVIII mas só agora é que foi confirmada graças à análise computacional dos padrões de linguagem usados pelos dois autores. O nome de Marlowe irá agora aparecer lado a lado com o de Shakespeare na nova edição da Oxford das obras completas do dramaturgo.

Além da colaboração com Marlowe, os investigadores, chegaram à conclusão de que Shakespeare não era um escritor assim tão solitário quanto isso. Na edição da Oxford de 1986, os editores já tinham proposto que oito peças do dramaturgo inglês tinham sido escritas a quatro mãos (ou mais). Uma afirmação que fez com que algumas pessoas se sentissem “ultrajadas”, como explicou ao The Guardian Gary Taylor, um dos investigadores que liderou a equipa.

“A visão ortodoxa era a de que Shakespeare não colaborava de todo. O que aconteceu desde 1986 é que, com a acumulação de novo conhecimento, técnicas e fontes, ficou claro que subestimámos a quantidade de trabalho de Shakespeare que foi colaborativo.”

De acordo com a nova investigação, pelo menos 17 peças foram escritas com outros autores, o que corresponde a cerca de 38% da totalidade da obra shakespeariana. Algumas colaborações aconteceram depois de as peças terem sido impressas, como foi o caso de Bem Está o que Acaba Bem. Desde o século XIX que se acredita que o texto que chegou aos dias de hoje não foi escrito na integra por William Shakespeare, mas a nova edição da Oxford é a primeira a trazer essa informação. “A camada original foi escrita na íntegra por Shakespeare, provavelmente em 1605, e a segunda camada por [Thomas] Middleton, no início da década de 1620”, explicou Taylor.

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Outra das novidades da nova edição é a inclusão de Arden of Faversham, uma peça publicada anonimamente em 1592 e que foi agora atribuída a um autor desconhecido e a Shakespeare. “Foi discutido durante séculos se Shakespeare estava de alguma forma ligado a esta peça. Identificámo-la como uma colaboração inicial de Shakespeare”, referiu Gary Taylor, explicando que existem evidências “muito fortes” de que o autor tenha escrito as cenas do meio.

A nova edição da obra completa de Shakespeare da Oxford — a New Oxford Shakespeareserá publicada entre final de outubro e dezembro deste ano e será composta por quatro volumes (também estará disponível em edição digital). Além do texto original original (em Early Modern English) e de uma versão atual, com grafia e pontuação adaptadas, os volumes irão incluir notas, ensaios e uma secção dedicada à autoria, com a pesquisa e estudos.