A novela entre a Uber e o estado californiano, neste conflito representado pelo Departamento de Veículos Motorizados (DMV), mais parece um jogo de xadrez. A Uber iniciou o serviço de transporte de passageiros em veículos autónomos, sem informar o DMV e sem requerer a necessária licença – o que basicamente permite às autoridades controlar a evolução dos testes e logo dos riscos para a população e restantes automobilistas –, levando as autoridades a recordar que não há testes de self driving na região sem autorização.

A Uber, muito habituada a conflitos, respondeu que, como ia um técnico dentro do carro – na realidade os Volvo XC90 não conseguem operar sem alguém a bordo – o veículo não podia ser considerado autónomo, pelo que não iria solicitar licença. A DMV insistiu e o presidente da Câmara de São Francisco também. Mas a Uber, neste caso através da Otto (empresa do grupo, especialista em sistemas de condução autónoma), bateu na mesma tecla, dando a entender que o DMV estava a ver mal o problema e que eles é que tinham razão. E foi exactamente aqui que o Estado californiano decidiu puxar dos galões e fazer xeque-mate, revogando os registos dos veículos de teste, que assim ficaram impedidos de circular. Com ou sem licença.

Da Califórnia para o Arizona

Apesar de o DMV se revelar disposto a conceder as licenças, caso a Uber cumprisse as regras do jogo, à semelhança do que acontece com as 20 outras companhias que testam veículos autónomos naquele Estado, a Uber decidiu carregar os XC90 e rumar ao deserto, literalmente, pois é no Arizona que os testes dos seus veículos vão prosseguir.

A falta de uma regulamentação específica para veículos autónomos torna bastante mais permissivos os testes neste Estado vizinho da Califórnia, o que levou a que o Waymo (da Alphabet, tal como a Google) concentrasse aí o desenvolvimento do sistema que está a desenvolver com a General Motors.

O Governador do Arizona, Doug Ducey, confessa que a ausência de legislação sobre o assunto é estratégica, pois conta com esse argumento para atrair mais empresas para a região e, logo, mais investimento e trabalho. É contudo igualmente óbvio que Phoenix, a capital, tem uma densidade populacional de apenas 1.168 habitantes por km2, quase um terço de Los Angeles (3.198/km2) e um sétimo de São Francisco (7.124/km2), o que certamente provocará um menor número de problemas com o trânsito.

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