A Espanha recorda esta semana as vítimas da ETA, principalmente o 20.º aniversário do homicídio do deputado Miguel Angel Blanco, que levou a uma mudança radical da opinião pública em relação àquela organização terrorista basca.

Várias cerimónias estão previstas em todo o país até quinta-feira, 13 de julho, data do aniversário da morte em Ermua (País Basco) do jovem eleito pela direita para a assembleia regional.

As comemorações estão a ser marcadas pela divisão entre a direita espanhola, que pretende valorizar nas cerimónias a morte de Miguel Angel Blanco, e a esquerda, que põe o acento tónico na recordação de todas as vítimas do terrorismo da ETA.

O jovem deputado regional foi raptado há 20 anos pela organização separatista armada basca, que deu ao Governo espanhol 48 horas para reagrupar todos os prisioneiros da ETA em prisões no País Basco. O executivo nacional, que na altura era presidido por José Maria Aznar (Partido Popular, direita), recusou ceder à “chantagem”.

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Milhões de pessoas em todo o país reclamaram então a libertação de Angel Blanco e em seguida continuaram a protestar contra a sua morte.

No País Basco, Comunidade Autónoma com cerca de dois milhões de habitantes, mais de meio milhão de pessoas juntaram-se em Bilbau quatro horas antes do limite estabelecido pela ETA. O homicídio motivou uma mudança de opinião sobre a organização armada, principalmente no País Basco, onde os opositores à ETA não se manifestavam publicamente por recearem represálias.

A ETA acabou por matar com duas balas na cabeça Miguel Angel Blanco, antes de abandonar o seu corpo num terreno, tendo a sua morte sido anunciada em 13 de julho de 1997.

Estes acontecimentos marcaram uma alteração da política do Governo espanhol, que passou a privilegiar uma estratégia de eliminação da ETA, não só do ponto de vista da luta armada, como também da sua intervenção política.

Miguel Angel Blanco está na memória de todos os membros do Partido Popular [PP, direita] e também de todos os espanhóis”, declarou na segunda-feira o chefe do Governo, Mariano Rajoy.

As comemorações estão a ser marcadas pela recusa da presidente da Câmara Municipal de Madrid, Manuela Carmena (eleita pela extrema-esquerda), em autorizar a colocação de um cartaz na autarquia, a recordar o assassinato de Angel Blanco. Carmena afirma que condena qualquer atentado terrorista, mas insiste que não se deve distinguir uma vítima em relação a outra.

A ETA foi criada em 1959, durante a época da ditadura franquista e renunciou à luta armada em 2011, depois de mais de 40 anos de atos de violência em nome da independência do País Basco e de Navarra.

Em 8 de abril último anunciou o seu desarmamento e entregou à justiça francesa a lista daqueles que garante serem os seus últimos depósitos secretos de armas. Há ainda em prisões espanholas e francesas cerca de 330 presos da ETA, que ainda têm de chegar a um acordo sobre a dissolução definitiva da organização.