Quase 24 horas depois de ter sido detetado o assalto, a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna (SSI) soube pela comunicação social que os paióis de Tancos tinham sido assaltados. O Exército não chegou a partilhar essa informação com a Unidade de Coordenação Antiterrorismo (UCAT), dirigido pela SSI, revelou esta tarde Helena Fazenda na audição na comissão parlamentar de Defesa. Cerca de 48 horas depois do assalto, os serviços de informações e forças de segurança afastavam a hipótese de terrorismo.

A situação em Tancos “foi noticiada” ao início da tarde de quinta-feira, 29 de julho. Foi só aí que a secretária-geral do SSI se “apercebeu” de que tinham sido furtadas centenas de peças de material de guerra dos Paióis Nacionais de Tancos (PNT). “Foi noticiada a situação e a preocupação em agir foi muito grande”, revelou Helena Fazenda aos deputados. “Foi noticiado e foram tomadas as medidas que poderiam ter sido tomadas”, sublinhou.

Mas esse conhecimento só chegou à secretária-geral do SSI quase um dia depois do assalto. Por isso, e porque o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) estava em Bruxelas com o ministro da Defesa para participar numa reunião da NATO, só quase 48 horas depois de ter sido detetado um arrombamento em dois dos paiolins de Tancos, é que se reuniu o organismo que coordena toda a informação sobre investigação e combate ao terrorismo em Portugal: a Unidade de Coordenação Antiterrorista (UCAT), dirigida por Helena Fazenda. “Não dispus de outro tempo para fazer aquilo que tinha de ser feito e que foi feito”, disse Fazenda aos deputados, confrontada com o tempo que passou entre o momento em que foi descoberta a entrada nos paióis e a reunião da UCAT. Isso não impediu, no entanto, que a Polícia Judiciária Militar e a Polícia Judiciária já tivessem partido para o terreno para dar início às investigações.

As revelações foram feitas pela responsável do SSI, numa audição em que também ficou a garantia de Helena Fazenda de que a UCAT nunca teve conhecimento de eventuais investigações já em curso sobre possíveis assaltos idênticos aos de Tancos. Esse dado foi divulgado pela revista Sábado num primeiro momento mas, diz Helena Fazenda, “se a informação existia, o dono da informação não a partilhou”. A secretária-geral do SSI garante que não teve “nenhum conhecimento prévio a esta situação”.

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A secretária-geral do SSI acrescentou, no entanto, que “a informação partilhada é da responsabilidade dos serviços que a partilham, depois de avaliarem se tem utilidade para os restantes parceiros”. Isto é, no caso do Exército, não há um procedimento definido que implique a comunicação de furtos a outros organismos — sejam serviços de informações ou forças de segurança –, mesmo quando se trate de armamento de guerra, como foi o caso de Tancos.

Quando teve conhecimento do assalto, Helena Fazenda entrou em contacto com o CEMGFA e ficou combinado um encontro para o dia seguinte, sexta-feira, que acabaria por dar lugar a uma reunião do UCAT com os “responsáveis máximos” dos vários organismos ali representados: Serviço de Informações e Segurança e o Serviço de Informações Estratégicas de Defesa, PJ, PSP, GNR, SEF e Polícia Marítima. Estiveram também presentes um representante da Procuradora-Geral da República e os procuradores responsáveis pelo processo que foi de imediato instaurado.

A secretária-geral do SSI terá então sido informada — apenas 48 horas depois de ter sido detetado o assalto — de que “não foi identificado por todos estes serviços e forças de segurança” razões para determinar o “agravamento do nível da ameaça”. A reunião, que tinha começado por volta das 18h30, durou cerca de uma hora e meia. “O quadro inicial e de que se toma conhecimento imediatamente foi tido como um quadro de preocupação” tendo em conta “a natureza do material que tinha desaparecido”, assume.

Foram informados os parceiros internacionais — através da Europol e da Interpol — e, no final, Helena Fazenda ligou a António Costa, para tranquilizar o primeiro-ministro sobre a ausência de riscos para a segurança interna como consequência do furto de material de guerra. A PSP e a GNR decidiram “reforçar” a vigilância em determinados nos locais que estão sob a sua jurisdição — aglomerados de pessoas, festivais, áreas próximas de estruturas militares, aeroportos — mas, “perante todos os elementos disponíveis e sem prejuízo deste reforço da parte de cada uma das entidades presentes”, diz Helena Fazenda, “não havia quaisquer elementos que pusessem em causa o grau de ameaça ao território nacional e também em matéria de terrorismo”. Por essa razão, o grau de ameaça nunca passou de moderado, disse ainda a secretária-geral do SSI.