Inaugurou-se em dezembro de 2014, no Porto, para ser um bar diferente “numa cidade cheia de bares, onde quase todos os bares eram iguais“, escreveu na altura o Cave 45. O bar e sala de concertos foi afinando a programação rock e transformou-se em ponto de passagem obrigatório para quem procura concertos de rock alternativo. Esta semana, a promotora Amplificasom revelou que “este palco essencial” vai fechar as portas a 31 de dezembro. Já há uma petição a circular, com mais de 1.300 assinaturas, mas as razões para o encerramento são outras.

“Neste momento o Porto é uma cidade extremamente procurada e, devido a uma má gerência do turismo, cada vez mais pessoas estão a ser desalojadas das próprias casas e dos seus negócios”, pode ler-se na petição, que começou a circular esta terça-feira. No texto, é dito que o Cave 45 vai encerrar “para dar lugar a mais um dos milhares de hósteis e Airbnbs que estão a tomar conta da cidade“.

“Tem havido muita desinformação”, diz ao Observador Óscar Pinho, um dos três sócios-gerentes do Cave 45, a par com Iolanda Pereira e Paulo Pereira, conhecido por Rodas. “Vamos fechar porque, financeiramente, a coisa não está a correr como devia.

O bar tem uma identidade rock marcada e não faz concessões. Não há noites eletrónicas, não há música pop ocasional, nem sequer há DJs profissionais. “A música é escolhida por quem está a trabalhar no Cave”, pode ler-se na página do bar. Lá dentro misturam-se estilos tão variados como garage rock, black metal, hardcore, punk, rockabilly e stoner. A 12 de outubro, por exemplo, haverá concerto de Brant Bjork, um dos fundadores da banda norte-americana Kyuss.

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Conseguimos pagar as contas, não temos dívidas, mas nós, sócios, temos estado sem receber ordenado“, conta Óscar Pinho, sobre o que motivou a decisão difícil de encerrar.

Não é que a questão imobiliária não pese. O andar de cima do bar, que fica no número 45 da Rua das Oliveiras, transformou-se em guesthouse há cerca de um ano, o que lhes tem trazido “alguns problemas” por causa do barulho. O espaço do Cave 45 já era um bar anteriormente, chamado Janela Indiscreta, ou seja, tem licença de bar há muito tempo. O que mudou foi que o andar de cima passou de um escritório para um alojamento. “A polícia é chamada cá por causa do barulho e dá-nos razão. É um problema camarário”, lamenta.

Até sempre, CAVE 45 :(Para quem não sabe, este palco essencial do Porto, encerra portas no final do ano – outros…

Posted by Amplificasom on Monday, October 2, 2017

Óscar Pinho esclarece que não contactou a Câmara do Porto e que não pensa fazê-lo. Até porque o contrato de arrendamento termina em outubro de 2019 e a renovação seria praticamente impossível. “Não interessa ao senhorio que este sítio continue com este ramo.

Por agora, os três sócios não estão à procura de um novo espaço para continuar o Cave 45. Até porque “as rendas no centro estão incomportáveis. Vamos esperar um bocadinho e pensar”. Óscar reconhece que foram cometidos “alguns erros no início, em termos de concertos” e que há uma dificuldade em rentabilizar a cave, mais espaçosa do que o andar térreo, e que só abre em dias de concertos ou festas. “Se tivéssemos a possibilidade de servir comida… A parte de cima é pequenina.” Por estes motivos, nem milhares de assinaturas na petição poderiam manter as portas do Cave 45 abertas a partir do dia 1 de janeiro de 2018.

Em agosto, o Observador avançou que o Porto vai recuperar um dos seus bares mais míticos, o Aniki Bobó, em 2018, graças a uma parceria entre a promotora Lovers & Lollypops e a Câmara Municipal do Porto. A autarquia reconheceu que a cidade perdeu “o papel preponderante que chegou a ter na música contemporânea não erudita” e que hoje é difícil sair de casa num dia de semana e ouvir concertos de música nova, mais experimental, seja rock, folk ou jazz, com regularidade. O encerramento do Cave 45 é mais um revés na cena musical do Porto.

“Em termos de programação não há nada como o Cave 45”, reconhece Óscar Pinho: “Eu sempre fui consumidor de concertos. Só espero que, quando fecharmos, que possa surgir outro espaço do género.