Uma enorme rejeição da decisão norte-americana. Foi este o resultado da sessão plenária das Nações Unidas onde se votou a condenação do reconhecimento de Jerusalém como capital israelita pelos Estados Unidos, por 128 votos a favor, 9 contra e 35 abstenções.

As ameaças veladas de Donald Trump e da sua embaixadora, Nikki Haley, não chegaram para fazer mudar de ideias o número de países suficientes para evitar a condenação. Os vários países árabes uniram-se inequivocamente contra os Estados Unidos na votação, com a resolução a ser aprovada tanto pelo Irão como pela Arábia Saudita ou até pelo Egito, que responderam positivamente ao discurso do representante palestiniano, Riyad Mansour. Este fez críticas aos EUA — “chumbaram no teste de Jerusalém”, disse –, mas também sublinhou que não tem “animosidade” contra os norte-americanos e que apenas o move o facto de a decisão ter “afetado o estatuto dos EUA como mediadores da paz”.

Também o Irão disse que “a Palestina está no coração de todos os países muçulmanos” e a Turquia garantiu que estes não serão “intimidados”. Até a Arábia Saudita — habitual aliada dos EUA em várias questões e que, nos últimos tempos, tem registado uma aproximação a Israel — anunciou que continua a defender Jerusalém Oriental como capital de um futuro Estado palestiniano.

E não só os países de maioria muçulmana aprovaram a condenação da decisão norte-americana. Várias nações europeias, entre elas França, Alemanha e também Portugal, votaram a favor da resolução. Outros, como a Hungria e a República Checa, abstiveram-se.

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A representante norte-americana classificou como “uma vergonha” a postura da ONU, que disse ter-se tornado “um lugar hostil para Israel”. E deixou um aviso sobre a participação americana nas Nações Unidas. “Os EUA irão lembrar-se deste dia como o dia em que foram castigados na Assembleia Geral por terem exercido o seu direito como nação soberana”, disse Haley. “Vamos lembrar-nos disto quando formos chamados de novo a fazer a maior contribuição mundial para a ONU.”

Americanos “usam músculos em vez de diplomacia”

Ainda antes do plenário, Israel e EUA já se tinham movimentado para deixar claras as suas posições. O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, talvez antecipando uma derrota na ONU, descreveu as Nações Unidas como “uma casa de mentiras” e sublinhou que “o Estado de Israel rejeita totalmente esta votação ainda antes de ser aprovada a resolução”. “Jerusalém é a capital de Israel, quer a ONU reconheça isto quer não. Os EUA precisaram de 70 anos para reconhecer isto formalmente e a ONU também precisará de anos para fazer o mesmo”, declarou.

Do lado norte-americano, o presidente Donald Trump foi ainda mais longe do que Nikki Haley na ameaça aos países que apoiaram a condenação. “Eles recebem centenas de milhões de dólares — milhares de milhões até — e depois votam contra nós…”, desabafou Trump sobre alguns países. “Eles que votem contra nós. Vamos poupar bastante”, rematou, naquilo que foi entendido por muitos como uma ameaça a países como a Jordânia ou o Egito, que têm alinhado pela batuta dos palestinianos mas que recebem milhões de dólares em ajuda internacional vinda dos Estados Unidos. Resta saber se Trump irá agora ser consequente e cortar a ajuda humanitária a estes países que votaram a favor da resolução.

Também a embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Haley, deixou claro no Twitter que “os EUA vão apontar os nomes” daqueles que votarem contra a decisão norte-americana de reconhecer Jerusalém como capital de Israel.

A postura norte-americana — classificada por países como a Turquia de “bullying” — não conseguiu, contudo, colher frutos. “O presidente Trump e a embaixadora Haley estão a tentar usar os músculos americanos em vez da diplomacia”, escreveu Nada Tawfik, correspondente da BBC em Nova Iorque, para conseguirem apoio naquilo que veem como uma decisão legítima que depende apenas da soberania do seu país. “Só que não é assim que a maioria dos países nas Nações Unidas olha para a questão”, escreveu.