Os anúncios de Carles Puigdemont sobre aquilo que pretende fazer em relação ao Governo catalão sucedem-se a um ritmo diário. Depois de, na quinta-feira, o espanhol ter anunciado que renunciava a tomar posse como presidente do Governo catalão (e de indicado um político atualmente detido para esse lugar), Puigdemont disse esta sexta-feira que vai formar um “Conselho da República” para, a partir da Bélgica, liderar os destinos da região autónoma.

Puigdemont define o seu plano como tratando-se de um “Governo no exílio” a partir de Waterloo, para onde se terá mudado depois de viajar de Barcelona para a Bélgica para escapar a uma detenção por estar indiciado de rebelião, sedição e uso indevido de meios públicos.

O responsável catalão defende a transparência do processo que propõe, em declarações ao jornal britânico The Guardian. “Não é na sombra. Preferimos trabalhar num espaço livre, sem ameaças ou medos. Temos de agir sem os problemas da justiça e da polícia espanholas”, disse. “É um gabinete ou Governo que tem de representar a nossa realidade política.”

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Em traços mais concretos, Puigdemont diz que o seu “Conselho da República” seria composto por representantes de “outros partidos”, que, supõe-se, integrem o parlamento catalão. Mas não se esgota nessa representação partidária. “O Conselho deve ter representação das comunidades locais e da sociedade civil”, diz Puigdemont. “Vamos mover-nos do sistema de Governo antigo para as pessoas para um novo sistema [de Governo] com as pessoas.”

Uma coisa é certa: Puigdemont será o líder dessa nova estrutura de Governo exilado. E, para justificar essa posição de destaque, o líder do Junts per Catalunya (JxCat), partido pelo qual foi reeleito presidente do Governo catalão, regressa precisamente a essa última eleição regional.

Em dezembro, o JxCat conseguiu 21,66% dos votos, cerca de quatro pontos abaixo do Ciudadanos. Mas a união de votos dos partidos independentistas (como a Esquerra Republicana de Catalunya e a Candidatura d’Unitat Popular) deu a Puigdemont, cabeça-de-lista do segundo partido mais votado, a possibilidade de formar Governo. Um cenário impossibilitado pelo facto de se encontrar na Bélgica.

O plano anunciado esta sexta-feira por Puigdemont deverá, no entanto, esbarrar na oposição do Governo espanhol e no veto do Tribunal Constitucional — da mesma forma que o resultado do referendo, a favor da independência da catalunha, acabou anulado pelos juízes conselheiros.

Agora, em declarações ao Guardian, o responsável catalão volta a acusar Madrid de falta de diálogo. “Não há ninguém do outro lado da mesa”, diz, lembrando que o Estado espanhol aceitou, em três momentos distintos, discutir com a organização separatista basca os termos do acordo para o desarmamento dos seus elementos. “Mas não falam connosco, que somos democraticamente eleitos representantes” do povo. “Nós nunca recorremos à violência nem matámos uma única pessoa”, dramatiza Puigdemont.