O início do monólogo de Michelle Wolf no Jantar de Correspondentes da Casa Branca, que decorreu no sábado, deixava logo antever que a comediante não teria papas na língua nessa noite: “Tal como uma estrela porno diz quando está à beira de fazer sexo com Trump, vamos lá despachar isto”, começou Wolf, num monólogo em que atacaria o Presidente norte-americano e outros membros da sua equipa, levando inclusivamente alguns presentes a abandonarem a cerimónia.

“É 2018 e sou uma mulher, não me podem calar. A não ser que consigam que o Michael Cohen me transfira 130 mil dólares”, disse a comediante, numa referência ao caso Stormy Daniels, a atriz porno que diz ter tido relações sexuais com o Presidente. Cohen é o advogado de Trump que terá pago à atriz para que não divulgasse esse relacionamento em vésperas da eleição.

As piadas de Michelle Wolf durante o jantar surpreenderam a audiência de cerca de três mil pessoas no Hotel Hilton e levaram inclusivamente a diretora de comunicação estratégica de Trump, Mercedes Schlapp, a abandonar a sala juntamente com o seu marido, o ativista conservador Matt Schlapp, segundo conta o Politico.

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O ataque mais duro, contudo, seria dirigido não ao Presidente, mas à secretária de Imprensa da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, a quem Wolf chamou de mentirosa: “Eu até gosto mesmo da Sarah, acho que ela é muito desenrascada. Mas ela queima factos e depois utiliza as cinzas para pintar os olhos com um efeito esfumado. Talvez ela tenha nascido assim, talvez sejam mentiras. Provavelmente são mentiras.” Sanders não foi o único membro da Administração Trump debaixo de fogo: Wolf chegou mesmo a desejar que a conselheira Kellyanne Conway ficasse “presa debaixo de uma árvore”. Presa, não esmagada, ressalvou.

O discurso mais sério do jantar coube a Margaret Talev, presidente da Associação de Correspondentes da Casa Branca, que denunciou as críticas feitas aos jornalistas por Trump: “Rejeitamos os esforços de qualquer pessoa, especialmente dos nossos líderes eleitos, de pintar o jornalismo como algo não-americano, de minar a confiança entre repórter e leitor ou de lançar dúvidas sobre a relevância dos factos e da verdade”, afirmou.

Reações de choque e louvor

As declarações de Wolf sobre Huckabee Sanders, que estava presente na sala, chocaram muitos dos presentes, incluindo o antecessor de Sanders, Sean Spicer. “Foi completamente nojento”, disse o antigo colaborador de Trump ao The Guardian. “Uma coisa é celebrar a primeira emenda [que protege o direito à liberdade de expressão], mas o que aconteceu aqui foi das coisas mais nojentas e deploráveis que já ouvi na vida“.

Também a jornalista do New York Times Maggie Haberman, que recebeu um prémio durante o jantar pela sua cobertura à administração Trump, elogiou no Twitter a capacidade de encaixe de Sanders: “Que a secretária de Imprensa tenha ficado sentada a absorver críticas intensas sobre a sua aparência física, o seu profissionalismo e tudo o mais na televisão nacional, em vez de se levantar e sair, foi impressionante.”

Nem todos, contudo, criticaram Wolf. Ryan Knight, fundador do grupo pró-democrata Build the Wave, disse que a comediante levou a verdade ao Jantar dos Correspondentes. “Sarah Huckabee Sanders não conseguiu lidar com aquilo, os apoiantes de Trump estão a choramingar e eu adorei”, escreveu no Twitter.

Este é o segundo Jantar dos Correspondentes da Casa Branca desde que Donald Trump se tornou Presidente. À semelhança do que aconteceu no ano passado, Trump não esteve presente, mas tal não o impediu de comentar no Twitter o monólogo de Wolf, classificando o jantar como “uma grande e aborrecida falência” com um número de comédia que “foi uma desgraça”.