No reino nebuloso dos conceitos e da metáforas, “arte” e “gastronomia” andam de mãos dadas. Visualmente, existem pratos que parecem autênticas pinturas, o crepitar de um bife quando bate na frigideira a escaldar é música para muitos ouvidos e há muita gente que se especializa a transformar ingredientes em autênticas esculturas. Porque não, então, juntar ambas as noções e celebrar? O hotel Belmond Reid’s Palace, na ilha da Madeira, chegou-se à frente e apresentou o seu primeiro festival gastronómico, o The Art of Flavours, que durante dois dias reuniu sete cozinheiros portugueses e estrangeiros, a convite do chef Luís Pestana (líder do estrelado William, espaço de fine dining do histórico hotel funchalense).

Tudo começou num sábado, ao final da tarde, para aquilo a que chamaram de “Food Party”. A piscina e jardim do hotel serviram de palco, o oceano Atlântico e a baía do Funchal completaram o cenário. Espalhados por entre tudo isto, várias bancas de comida e bebida fizeram as delícias de todos aqueles que esgotaram este primeiro evento. O chef Pedro Lemos, que tem uma estrela Michelin no seu restaurante homónimo, no Porto, serviu a sua muito concorrida vaca velha com rábano que foi cozinhada por 24 horas; Vítor Matos, líder do Antiqvvm (uma estrela Michelin no Porto), optou pelo peixe, com um prato de atum com abacate, enquanto Ricardo Costa, do duas estrelas Yeatman, compunha o trio nortenho servindo uma iguaria de chocos e sua tinta. Sergi Arola, o espanhol radicado em Sintra que gere o LAB by Sergi Arola (uma estrela), optou por servir um delicado ravioli de cavala, enquanto Michel van der Kroft (duas estrelas no ‘T Nonnetje, em Harderwijk, Holanda) escolheu homenagear a sua mulher, uma portuguesa da zona da Serra da Estrela, com um prato de raviolis recheados com o queijo dessa área e vegetais. Joachim Koerper, o alemão responsável pelo restaurante Eleven (uma estrela), em Lisboa, optou por uma composição com cavala e alcaparras enquanto o anfitrião do festival, Luís Pestana, optou por uma mistura de vieiras e lapas que muitos elogios arrancou.

O ambiente da “Food Party”, um dos eventos do festival The Art of Flavours. ©Diogo Lopes/Observador

A festa começou com calma, com os primeiros convidados a chegar depois das 19h e a serem recebidos com uma flute de champanhe. A primeira zona a ser “atacada” foi a dos queijos, pão e enchidos que se estendia ao longo de quatro mesas dignas de qualquer banquete que se preze. Em pouco tempo, e depois de algumas voltas de prospeção a avaliar a oferta gastronómica proposta, o jantar voltante — cada convidado recebeu um suporte de copo e prato em madeira — começava. Durante largas horas o ambiente manteve-se tranquilo, quando a DJ Yen Sung assumiu o controlo da banda sonora, tudo mudou: brindes e passos de dança sucederam-se. O clima só não se manteve assim ininterruptamente porque pelo meio houve um espetáculo de fogo-de-artifício que fez com que toda a gente parasse o que estava a fazer, sacasse dos telemóveis, e começasse a fotografar desenfreadamente. No final, todos foram descansar e prepara o dia seguinte — o jantar de gala no restaurante William.

A referência feita há umas linhas sobre estatuetas feitas com alimentos não podia ser mais acertada: à porta do William, pousado sobre um lustroso piano de cauda, morava um busto do famoso “Bibendum”, o boneco rechonchudo do Guia Michelin, feito com manteiga. “Como é que isto não derrete?!”, perguntou um senhor de smoking. Ninguém soube responder, mas isso também deixou de interessar porque em menos de nada todos os comensais dessa noite foram convidados a ocupar os seus lugares à mesa. O jantar ia começar.

Durante mais de duas horas, nove pratos “estrelados” foram desfilando pelas toalhas brancas imaculadas do restaurante. Nesse domingo, o registo gastronómico tornou-se bem mais formal e todos os pratos levaram à letra o nome deste festival de cozinha: prato atrás de prato, várias foram as pessoas que disseram “Isto parece uma obra de arte, até dá pena comer”. Veja na fotogaleria o resumo em imagens destes dois dias.

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