A Croácia viveu esta quarta-feira um dia histórico ao vencer a Inglaterra no prolongamento por 2-1 e conseguir uma inédita presença na final do Campeonato do Mundo de futebol. E a noite foi feita de celebrações e de imagens que ficarão para a história, do “atropelamento” ao fotógrafo da Agence France-Press (AFP) Yuri Cortez após o golo decisivo de Mandzukic ao jogo entre os filhos pequenitos de Vida e Perisic, descalços, no relvado do Luzhniki depois do encontro. Só houve mesmo uma cara que se tornou bem conhecida neste Mundial ausente da festa em Moscovo: Kolinda Grabar-Kitarovic. Mas nem por isso a “presidente adepta” do país passou ao lado do que estava a acontecer na Rússia. Bem pelo contrário.

Viaja em económica, descontou dias no ordenado, foge ao protocolo. Além de adepta, é presidente da Croácia

Em Bruxelas, onde participa na cimeira da NATO, a líder croata esteve de manhã à noite “sintonizada” com o momento de euforia que se vive no país. E logo a abrir o encontro dos países que pertencem à Organização do Tratado Atlântico Norte – que tem sido marcado pelas posições e ameaças dos Estados Unidos, como se viu ainda esta manhã –, Grabar-Kitarovic teve um gesto que deteve por momentos as atenções: deu a camisola da seleção balcânica com o número 9 ao presidente americano, Donald Trump, e uma outra com o 10 nas costas a Theresa May, primeira-ministra britânica que seria sua “rival”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O primeiro dia foi longo e, como resumia o The New York Times, teve tudo menos de diplomático a abrir face às acusações diretas de Donald Trump à Alemanha de Angela Merkel por causa das suas relações com a Rússia (que como explica o The Guardian já tiveram a primeira resposta). No entanto, para uma pessoa em especial presente na cimeira, terminou da melhor forma: como explicou esta quinta-feira em Bruxelas, a presidente croata acompanhou tudo o que se passava na Rússia.

“Estivemos a seguir o jogo durante o jantar. Foi fantástico porque todos os Aliados estavam a torcer por nós, ou pelo menos a maioria”, contou Grabar-Kitarovic aos jornalistas presentes, aqui citada pela Associated Press. E com uma outra curiosidade: estava na mesa do presidente francês Emmanuel Macron, líder do adversário em campo no encontro decisivo, a quem já deixou uma espécie de aviso: “Esta vai ser uma cimeira de sucesso. E no domingo vamos ganhar”. À BBC, antes da cimeira, a presidente croata tinha explicado que era possível separar as diferenças políticas do que cada equipa fazia em campo.

Apaixonada há muitos anos por futebol, Grabar-Kitarovic, a primeira mulher a chegar à presidência dos balcânicos depois de passagens pela NATO, pela embaixada nos Estados Unidos e pelo ministério dos Negócios Estrangeiros, tornou-se uma das grandes figuras deste Campeonato do Mundo pela forma como tem desfrutado da competição sempre que pode: viaja em classe económica pagando do seu bolso todas as viagens (e tirando selfies com fartura em cada um desses momentos), desconta os dias em que está na Rússia do seu ordenado e prefere ir ver os encontros na bancada com os restantes adeptos croatas do que na tribuna. Ainda assim, nos quartos de final, teve de seguir o protocolo… mas nem por isso deixou de festejar de forma exuberante o triunfo da Croácia frente ao conjunto anfitrião com o líder da Federação e antiga estrela, Davor Suker, muito perto do primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, e do número 1 da FIFA, Gianni Infantino. E no final ainda desceu mesmo ao balneário, onde quis festejar com jogadores, treinadores e restante staff a vitória.