O Presidente norte-americano, Donald Trump, reforçou as críticas aos media norte-americanos num comício realizado na noite de quinta-feira, algumas horas depois de dois representantes das Nações Unidas terem feito um comunicado a alertar para o risco de as declarações de Trump minarem a liberdade de imprensa nos Estados Unidos.

“O que é que aconteceu à imprensa livre? O que é que aconteceu ao jornalismo honesto? Eles não o fazem. Só inventam histórias.” Esta foi uma das frases utilizada pelo Presidente durante um comício em Wilkes-Barre (Pensilvânia) a favor do candidato republicano ao Senado Lou Barletta, apontando para a zona de imprensa presente no pavilhão.

O discurso de Trump na noite de quinta-feira centrou-se sobretudo na análise da cobertura que os órgãos de comunicação social fazem da sua presidência e deu exemplos concretos. Referindo-se à cobertura feita do seu encontro com a Rainha Isabel II no Reino Unido, o Presidente afirmou que houve uma “boa química” entre ele e a Rainha, mas que, em vez de noticiar isso, os jornalistas se concentraram no seu atraso. “Tornam tudo mau. Porque eles são as ‘fake news’, falsas e nojentas”, declarou.

Outro dos exemplos apontados por Trump foi a forma como os seus encontros com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e com o Presidente russo, Vladimir Putin, foram analisados. “Eles queriam que eu chegasse lá e tivesse um combate de boxe. O que é que aconteceu à diplomacia?”, questionou. Sobre o diferendo com a Coreia do Norte, o Presidente ilustrou a situação reproduzindo o que disse à sua mulher, Melania Trump, depois do encontro com Kim, como descreve o The Guardian:

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Parei os lançamentos de mísseis a cada dois segundos. E querida, consegui trazer os reféns de volta. E sabes que mais, querida, eles já não estão a fazer mais testes nucleares. Os media vão finalmente tratar-me bem.” Em vez disso, diz, só recebeu “negativismo”.

O discurso do Presidente aconteceu no mesmo dia em que dois especialistas nomeados pelas Nações Unidas para o Conselho dos Direitos Humanas e para a Comissão dos Direitos Humanos Inter-Americana terem criticado duramente o que classificaram de “ataques estratégicos” de Trump aos media. “Estes ataques são contrários às obrigações do país de respeitar a liberdade de imprensa e a lei de direitos humanos internacional”, declararam David Kaye e Edison Lanza em comunicado.

“Ele não conseguiu provar nem sequer uma vez que uma notícia em particular tenha sido motivado por outras razões inconvenientes”, disseram os representantes da ONU, destacando que tal atitude “mina a confiança no jornalismo e levanta dúvidas sobre dados verificáveis”.

Neste mesmo dia, a secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Huckabee-Sanders, protagonizou outro momento de tensão com o correspondente da CNN na Casa Branca. Instada pelo jornalista Jim Acosta a declarar taxativamente que os media não são “o inimigo do povo”, como Trump já declarou, Sanders recusou-se a fazê-lo: “Que eu saiba, sou a primeira secretária de imprensa na História dos Estados Unidos que precisa de proteção dos Serviços Secretos”, afirmou, segundo a Time, acusando os jornalistas de estarem a aumentar os “ataques verbais contra o Presidente e todos os membros da sua administração”.

Acosta abandonou a conferência de imprensa, classificando as declarações de Sanders como “vergonhosas”.

Também neste dia a própria filha do Presidente, Ivanka Trump, foi instada a comentar se concorda com o Presidente no uso da expressão “inimigos do povo” relativamente aos jornalistas. “Sem dúvida que recebi a minha dose de notícias sobre mim que eu sabia não serem totalmente rigorosas, por isso tenho alguma sensibilidade relativamente a pessoas que mostram preocupação e queixas, especialmente quando se sentem atacadas”, declarou, segundo o Washington Post. “Mas não, não considero os media inimigos do povo.”

O Presidente reagiu à frase da filha, que considerou acertada. “As ‘FAKE NEWS’ [notícias falsas], que são uma grande percentagem dos media, é que são o inimigo do povo!”, explicou.

A expressão já tinha sido debatida ao longo dos últimos dias desde que o publisher do New York Times, A.G. Sulzberger, revelou que pediu ao Presidente que parasse de usar a expressão “inimigo do povo” e que alertou para o perigo do seu discurso.

Dono do New York Times alertou Trump para discurso “perigoso e prejudicial”