O Senado da Argentina rejeitou esta quinta-feira o projeto-lei que visava legalizar a interrupção voluntária da gravidez nas primeiras 14 semanas de gestação. Depois de um debate de cerca de 15 horas, a votação ficou decidida com 31 votos a favor e 38 contra.

O tema dividiu a sociedade argentina. Enquanto decorria a votação, centenas de manifestantes a favor e contra a legalização do aborto no país concentraram-se junto ao edifício do Senado. Depois de serem conhecidos os resultados, os confrontos escalaram. Há registo de manifestantes que queimaram madeira e lixo e arremessaram pedras e garrafas contra a polícia como forma de protesto. A polícia de intervenção foi chamada ao local e terá usado gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar manifestantes.

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O projeto-lei agora rejeitado pelo Senado já tinha sido aprovado na Câmara dos Deputados e o Presidente, Mauricio Macri, já se tinha comprometido a não vetar a lei. Com esta decisão, mantém-se em vigor a lei aprovada em 1921, que só autoriza a interrupção voluntária da gravidez em caso de violação ou risco de vida da mãe.

Segundo relata o The Guardian, os grupos feministas e a imprensa local responsabilizam a Igreja Católica pelo resultado da votação. “A igreja pôs pressão nos senadores para votarem contra o projeto-lei”, acusa Ana Correa, membro fundador do movimento feminista pró-aborto #NiUnaMenos (“Nem uma mulher a menos”).

Apesar de um estudo recente ter concluido que 71% dos argentinos são contra o envolvimento da religião nos assuntos políticos, a Igreja Católica pronunciou-se publicamente contra a legalização da interrupção voluntária da gravidez. “Seria a primeira vez que a Argentina democrática que permite a eliminação de um ser humano por outro”, afirmou Oscar Ojea, presidente do Sínodo dos Bispos da Argentina, sucessor neste cargo do atual papa. Também o papa Francisco, originalmente deste país, não escondeu que se opõe ao projeto. Na passada segunda-feira, o jornal local Clarín relatou que o papa terá alegadamente pedido aos senadores contra o aborto para fazerem pressão nos restantes legisladores para que a lei não fosse aprovada.

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