O relatório do grande júri da Pensilvânia, conhecido esta semana, que denunciava os mais variados casos de abusos sexuais cometidos por cerca de 300 membros da Igreja Católica ao longo de quase 70 anos, continua a surpreender. Nas cerca de 1.300 páginas que resultaram de uma investigação de mais de dois anos, é identificado o caso do reverendo Edward George Ganster, falecido em 2014, que, quando deixou o sacerdócio, foi trabalhar para a Disney World com uma recomendação assinada pela sua diocese.

De acordo com o relatório, citado pelo The Telegraph, a diocese onde o reverendo Ganster era pároco estava a par das “transgressões sexuais” cometidas nos anos 1990 mas, mesmo sabendo do comportamento desviante, deu-lhe a recomendação pedida para trabalhar na Disney, na Flórida, um dos destinos mais frequentados por crianças do país.

“Apesar de saber que Ganster era um predador sexual, Anthony Muntone, da diocese de Allentown, aceitou recomendar o antigo padre para o trabalho: ‘Estou bastante seguro de que a diocese poderá dar-lhe uma referência positiva devido ao trabalho que fez durante anos de serviço aqui como sacerdote”, lê-se, segundo a publicação norte-americana Newsweek. Edward Ganster, que faleceu há quatro anos, chegou mesmo a ser contratado pela Walt Disney World, onde trabalhou durante 18 anos como operador de comboios para as famílias que visitavam o parque de diversões infantil.

Segundo a Newsweek, em 2002, uma das vítimas de Ganster, na altura com 37 anos, contactou a diocese de Bethlehem, na Pensilvânia, onde o padre estava por aquela altura, a denunciar que, quando era um jovem acólito de 14 anos na reitoria de St. Joseph em Frackville, Pensilvânia, tinha sido acariciado e apalpado pelo padre. O relatório especifica detalhes daqueles abusos, que terão durado mais de ano e meio, e que envolviam violência física. “Numa ocasião, Ganster arrastou o rapaz pelo chão e bateu-lhe repetidamente usando uma cruz de metal”, lê-se. A vítima voltou a reportar o abuso em 2004, mas a diocese só deu conta do caso às autoridades em 2007, muitos anos depois de Ganster já se ter afastado da igreja. Os abusos ocorreram na década de 70.

Segundo o relatório, Ganster deixou o sacerdócio em 1990 dizendo que se queria casar. Na altura, pediu à diocese que escrevesse uma carta de recomendação para um trabalho que estava à procura na Disney World, e o pedido foi acedido.

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