Graças a uma nova técnica que mistura células estaminais modificadas apagando grupos químicos de ADN associado ao sexo, é possível reproduzir crias de rato a partir de casais do mesmo sexo. A descoberta foi feita por um grupo de investigadores da Academia Chinesa das Ciências e publicada esta quinta-feira na revista Cell Stem Cell.

Muitas espécies conseguem reproduzir-se sem ser necessário haver um casal de macho-fêmea, como anfíbios, reptéis e peixes. Mas o processo é mais díficil quando toca a mamíferos. ”Estamos interessados na questão de os mamíferos apenas puderem submeter-se à reprodução sexual”, afirmou Qi Zhou, o coautor do estudo à revista.

O estudo desenvolveu um processo complicado de modificação genética, já que os cientistas tiveram que eliminar anormalidades geradas no processo reprodutivo de casais do mesmo sexo. Normalmente, os mamíferos herdam dois conjuntos de genes, um do pai e outro da mãe. Contudo, existe um grupo químico do ADN associado ao sexo, chamado ”impressão genética”, que se herda de um só progenitor.

Neste caso, o subconjunto do outro progenitor está inativo, uma vez que ao transmiti-lo é apagado. Caso esse processo não seja concluído de forma adequada a cria pode sofrer anomalias. Misturar material genético de crias do mesmo sexo pode apresentar elevados riscos para os bebés que recebem a importação genética.

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Utilizando conjuntos de ADN de ratos fêmea, os cientistas conseguiram reproduzir 29 crias a partir de 210 embriões que conseguiram viver até à idade adulta e reproduzir-se na normalidade. No entanto, os ratos produzidos a partir de material genético masculino só sobreviveram durante 48 horas.

Este é uma investigação importante no ramo científico. Dusko Ilic, investigador da King’s College de Londres, considera que isto ”abre caminho sobre diferentes aspetos da reprodução entre mamíferos e abre novas portas para futuras investigações”, afirmou à agência SMC.

Por outro lado, Christophe Galichet, investigador do Instituto Francis Crick, sublinha que ”os autores deram um passo extremamente importante para que possamos entender o porquê de os mamíferos apenas se puderem reproduzir sexualmente”.

É a primeira vez que este método é aplicado com êxito depois de outras experiências prévias. E ainda que as aplicações desta investigação sejam em grande medida teóricas, poderão melhorar o processo de clonagem nos mamíferos e nos tratamentos de fertilidade para o mesmo sexo.