“Um ato notável de generosidade.” É assim que um artigo de opinião publicado este sábado no jornal The Guardian define a confissão de Michelle Obama. A ex-primeira-dama dos Estados Unidos da América confessou numa entrevista à ABC, a propósito do novo livro de memórias Becoming — A Minha História, que sofreu um aborto há cerca de 20 anos e que ela e o marido recorreram à fertilização in vitro para conceber as duas filhas, Malia e Sasha, de 20 e 17 anos.

Na entrevista, Michelle Obama falou abertamente sobre o aborto e admitiu que, à data, sentiu-se “perdida e sozinha”, como se tivesse falhado. “Eu não sabia o quão comum eram os abortos porque nós [mulheres] não falamos sobre eles. Ficamos na nossa dor, a pensar que, de alguma forma, estamos quebradas.” A mensagem da ex-primeira-dama foi clara — “É importante falar com jovens mães sobre o facto de os abortos acontecerem” — e está a ser bem recebida.

Porque o tratamento in vitro é “cada vez mais comum” mas continua a ser um estigma. É nesse ponto que se foca a crónica do The Guardian, que ressalva a importância de figuras públicas “não terem vergonha” de estar entre os comuns mortais que passam pela mesma situação. “Isto pode fazer uma diferença enorme. (…) O tratamento in vitro existe há cerca de 40 anos mas continua a ser algo que as pessoas consideram difícil de discutir. As razões são complexas”, lê-se no artigo de opinião assinado pela jornalista freelancer Jean Hannah Edelstein.

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O The Vox continua a mesma linha de pensamento, ao argumentar que a confissão de Michelle Obama pode ajudar “a suavizar” o estigma associado aos abortos e à infertilidade. O aborto, lê-se neste artigo, é a complicação mais comum na gravidez — uma em cada cinco gravidezes resultam em aborto, pelo menos na realidade norte-americana. “Mas as pessoas não costumam falar sobre estas experiências, porque podem ser física e emocionalmente dolorosas e por causa do estigma e da falta de consciência sobre o quão comum elas são.”

No Twitter encontram-se com alguma facilidade expressões de agradecimento, mais e menos emocionadas. A australiana Zoe Daniel, chefe da delegação da ABC News em Washington, DC, escreve que esta é uma luta que muitos enfrentam e que, ao mesmo tempo, escondem. “Todos os dias abraço os meus filhos e penso em todos os meus bebés anjos. Força para todos os que estão a passar por esta dor dilacerante”, lê-se no respetivo tweet.

Julia Belluz, correspondente do Vox e autora da peça jornalística acima citada, defende que Michelle está a ajudar a “normalizar o aborto” e a ser uma voz poderosa para uma nova geração de pais mais consciente e disponível para falar sobre as dificuldades da infertilidade. À CNN, meio que também deu destaque à relevação de Michelle, o médico Zev Williams, diretor do Centro de Fertilidade da Universidade de Columbia, afirmou que esta confissão é “tão universal, não só nos EUA mas em todo o mundo”. “Há um sentimento real de culpa e relutância em discutir isto com outras pessoas.”