Bruno de Carvalho deverá ser presente a um juiz de instrução na terça-feira e será nesse momento que se tornarão públicas as medidas de coação ao antigo presidente do Sporting, que foi detido este domingo no âmbito do caso das agressões à equipa na Academia, em Alcochete, no passado dia 15 de maio. E se é verdade que a ligação direta do ex-líder ao clube acabou na destituição em Assembleia Geral (23 de junho) e na suspensão de sócio por um ano (2 de agosto), os últimos desenvolvimentos do processo poderão afetar, de forma direta, a realidade da SAD verde e branca no processo das rescisões.

A detenção em casa, a ligação a Mustafá, a “chave” Bruno Jacinto e o que vem aí para Bruno de Carvalho

“Entre os dias 1 e 14 de junho de 2018, nove jogadores do plantel principal (Rui Patrício, Daniel Podence, Gelson Martins, Bruno Fernandes, William Carvalho, Bas Dost, Rodrigo Battaglia, Ruben Ribeiro e Rafael Leão) comunicaram à Sporting SAD a resolução do respetivo contrato de trabalho desportivo invocando, para o efeito, justa causa. Posteriormente, os jogadores Bruno Fernandes, Bas Dost e Rodrigo Battaglia recuaram na intenção de se desvincular da Sporting SAD tendo, consequentemente, sido reintegrados no plantel principal da equipa de futebol em 10, 21 e 28 de julho de 2018, respetivamente”, começa por recordar o prospeto do empréstimo obrigacionista dos leões lançado na passada sexta-feira.

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“Adicionalmente, a 13 de julho de 2018, a Sporting SAD acordou com o jogador William de Carvalho e o clube espanhol Real Bétis Balompié SAD que (i) o jogador e a Sporting SAD renunciariam a quaisquer direitos de que pudessem ser titulares em virtude da resolução unilateral promovida por William de Carvalho, e (ii) a Sporting SAD aceitaria a inscrição do jogador pelo Real Bétis Balompié SAD mediante o pagamento à Sporting de até €20.000.000 e mantendo a Sporting SAD o direito a receber 25% dos montantes que o referido clube venha a receber em caso de transferência futura do mesmo jogador. Relativamente ao jogador Rui Patrício, foi alcançado, a 31 de outubro de 2018, acordo com o jogador e o Wolverhampton Wanderers Football Club, consistindo no pagamento por este último clube à Sporting SAD do montante de €18.000.000,00 em contrapartida da renúncia pela Sporting SAD e por Rui Patrício a quaisquer direitos de que pudessem ser titulares em virtude da resolução unilateral promovida pelo dito jogador. Em relação aos jogadores Daniel Podence, Gelson Martins, Ruben Ribeiro e Rafael Leão relativamente aos quais subsiste o litígio, encontram-se pendentes ações junto da FIFA e do Tribunal Arbitral do Desporto que têm por objeto a apreciação da procedência da justa causa invocada e, bem assim, a determinação da eventual indemnização”, acrescenta a SAD numa das 152 páginas que compõem o projeto agora lançado.

“[BdC] atiçou a ira dos adeptos contra mim”. Leia aqui na íntegra as 34 páginas da rescisão de Rui Patrício e Podence

Em relação aos restantes quatro casos, relativos a Gelson Martins, Daniel Podence, Rúben Ribeiro e Rafael Leão, a Sporting SAD defende que “os factos alegados como integradores da justa causa invocada pelos referidos jogadores nas respetivas resoluções unilaterais são improcedentes”, deixando no entanto uma ressalva: “Na hipótese de as instâncias competentes declararem verificada a justa causa para a resolução unilateral operada pelos jogadores, a Sporting SAD poderá ser condenada no pagamento de indemnizações no valor das retribuições que seriam devidas a cada um dos jogadores se os respetivos contratos de trabalho tivessem cessado no seu termo (deduzido dos valores auferidos pelo jogador em causa ao abrigo do contrato com o seu novo clube durante o período restante do contrato resolvido). Atendendo ao tempo remanescente de contrato e à retribuição auferida pelos referidos quatro jogadores em relação aos quais subsiste o litígio, no cenário de procedência da justa causa invocada as indemnizações correspondentes poderiam ascender a cerca de €6,8 milhões, que se traduz no valor peticionado pelos jogadores, incluindo danos e potenciais juros”.

A carta de rescisão de Rafael Leão com o Sporting, do desequilíbrio e ego dos dirigentes ao trauma maior do que a fome

Ou seja, e em resumo, o Sporting pedia um total a rondar os 273 milhões de euros pelas rescisões unilaterais dos quatro atletas em causa: 60,45 milhões por Podence, que assinou pelo Olympiacos da Grécia; 105,1 milhões por Gelson, que se vinculou aos espanhóis do Atl. Madrid; 45,3 milhões por Rafael Leão, que se mudou para os franceses do Lille; e 62,2 milhões por Rúben Ribeiro, que rumou recentemente ao Al Ain, dos Emirados Árabes Unidos. Todos os processos, que decorrem na FIFA Dispute Resolution Chamber e/ou no Tribunal Arbitral do Desporto; agora, corre o risco de ter de pagar 6,8 milhões.

Bruno de Carvalho e líder da Juventude Leonina foram detidos

“No dia 15 de maio de 2018, a Academia Sporting, em Alcochete, foi invadida por um grupo de várias dezenas de indivíduos que causaram danos nas instalações e agrediram jogadores e funcionários da Sporting SAD. A Sporting SAD apresentou queixa crime contra incertos, tendo requerido a sua admissão como assistente no processo. O procedimento criminal encontra-se na fase de inquérito, tendo, cerca de quatro dezenas dos referidos indivíduos, entre os quais 33 um ex-funcionário da Sporting SAD, sido indiciados pela prática dos crimes terrorismo, ofensa à integridade física qualificada, ameaça agravada, sequestro e dano com violência e sujeitos à medida de coação mais gravosa – a prisão preventiva. Nem o Sporting, nem a Sporting SAD, nem qualquer membro dos respetivos órgãos sociais foram constituídos arguidos. À data deste prospeto não é possível antecipar os impactos desportivos ou económicos que este processo possa provocar no emitente”, era explicado na passada sexta-feira. Algo que, a partir de agora, corre o risco de mudar em prejuízo das ambições verde e brancas.

Defesa do Sporting no caso da rescisão de Podence “iliba” clube e Bruno de Carvalho no ataque à Academia

Como o Observador avançou há um mês, o caso de Daniel Podence e a resposta enviada pelo Sporting para o Tribunal Arbitral do Desporto é um exemplo paradigmático em relação à argumentação de defesa dos leões, que no fundo acabava por “ilibar” Bruno de Carvalho, na altura presidente do clube e da SAD, de qualquer ligação ao que se tinha passado na Academia. “É inusitado que se sugira que as declarações públicas do então presidente da Sporting SAD possam ter sido, em si mesmas, causa dos incidentes em Alcochete. Cumpre, aliás, sublinhar que o Sporting, enquanto clube desportivo, deve justificar os seus resultados aos sócios e adeptos, pelo que natural se torna que não só as vitórias futebolísticas sejam vividas publicamente, mas que também os resultados menos positivos sejam reconhecidos e assumidos publicamente, atento o escrutínio público que, é, no desporto – e, sobretudo, nesta modalidade –, incontornável”, destacava, entre outras considerações.

O Observador sabe que, entre os quatro casos ainda em aberto, a grande prioridade de Frederico Varandas foi a situação de Gelson Martins, tendo por isso viajado no final da semana passada até Madrid, depois do encontro em Londres frente ao Arsenal, para reunir com os responsáveis do Atlético. Apesar de haver ainda alguma distância entre o que os colchoneros estavam dispostos a oferecer e aquilo que os leões procuravam receber, a ronda de negociações tinha deixado boas perspetivas para um acordo, algo que poderá vir a ser afetado com os últimos desenvolvimentos.