Evitam jantares com colegas de trabalho. Em reuniões de negócios deixam a porta aberta. Não se sentam ao lado de mulheres em aviões. Não aceitam ser mentores de juniores do sexo feminino. Reservam quartos de hotel em pisos diferentes. Estes são alguns dos comportamentos que os homens de Wall Street admitem ter após o surgimento do movimento #MeToo, descreve a Bloomberg.

As várias denúncias de assédio e abusos sexuais, resultantes da projeção do movimento #MeToo, estão a custar o afastamento das mulheres da esfera económica de Wall Street. Mais de 3o executivos seniores do sexo masculino confessam que “estão assustados” com o movimento e que evitam encontros para se protegerem de rumores.

Em vez de se corrigirem comportamentos, está a promover-se a eliminação de situações onde eles podem acontecer. Está a criar-se uma sensação de andar sobre ovos”, exemplificou David Bahnsen, ex-director administrativo do banco de investimento Morgan Stanley e actualmente consultor independente.

A publicação refere que este não é fenómeno único da indústria financeira, mas que as mudanças são consideráveis, já que as mulheres são escassas nos cargos superiores. Esta mudança de comportamento pode levar a que sejam acusados de discriminação sexual e, consequentemente, tornar-se-á mais difícil que as mulheres progridam profissionalmente.

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Se os homens evitam trabalhar ou viajar sozinhos com mulheres, evitam ensinar mulheres em privado por medo de serem acusados de abuso sexual, esses homens afastam-se de uma queixa de abuso sexual para serem acusados de discriminação sexual”, sublinha Stephen Zweig, advogado especialista em questões laborais da FordHarrison.

Em 2002, o  atual vice-presidente norte-americano, Mike Pence, admitiu evitar jantares com mulheres – especialmente se forem bonitas e atraentes – para evitar situações de “infidelidade ou rumores”.

Lisa Kaufman, chefe executiva da LaSalle Securities, defende que esta tomada de posição está a prejudicar as jovens mulheres da esfera financeira e que é absolutamente necessário a existência de um mentor. “Não existem ainda mulheres suficientes para ajudar a próxima geração. A evolução requer tipicamente que alguém de um nível mais sénior conheça o teu trabalho e te dê uma oportunidade. Isso é difícil se a pessoa não estiver disposta a estar sozinha com o membro júnior”, sublinha.

O #MeToo é um movimento de denúncia de casos de assédio e violação sexual, inicialmente associados a Hollywood, e que levou à mudança de paradigma, pondo fim à cultura de assédio sexual que afecta milhões de anónimos. Em 2017, foi a Figura do Ano pela revista Time.

#MeToo é a Figura do Ano 2017 da Time