Rui Rio não tinha pressa de responder a Luís Montenegro, mas já anunciou quando o fará: este sábado, às 18h30, num hotel do Porto. É nessa altura que vai responder ao desafio para a convocação de “direitas já” que foi lançado nesta tarde de sexta-feira e para o qual tem adiado resposta, pedindo “calma”.

Apenas uma vice-presidente de Rio, Isabel Meireles, respondeu logo na sexta-feira ao repto: “é golpe de Estado”, acusou. Rio, por sua vez, tem preferido manter-se em silêncio, tendo aceitado reunir-se primeiro com o Presidente da República (e ex-líder do PSD), Marcelo Rebelo de Sousa, que estava no Porto por motivos de agenda. Foi aí que pediu calma: “Vou responder, naturalmente, não vou fingir que nada aconteceu, isso seria hipocrisia”. É que Rui Rio até foi um atleta corredor dos 100 metros, quando era mais novo, mas agora diz que prefere corridas de “fundo ou meio-fundo”. Que é como quem diz que, primeiro, não tem pressa; segundo, sempre cumpriu os mandatos até ao fim — e não tenciona que desta vez seja diferente.

A sexta-feira passou, portanto, sem resposta do desafiado. No sábado, a mesma coisa. Rui Rio já tinha na agenda uma reunião do Conselho Estratégico Nacional (o órgão criado por si para estudar os dossiês e preparar o programa eleitoral), em Coimbra, e não faltou ao compromisso. A ideia é “calma” e seguir o plano, não fingindo que nada aconteceu, mas mantendo visível a linha de prioridades. À chegada a Coimbra, Rui Rio não falou aos jornalistas, mas o vice-presidente, e homem próximo do líder, Maló de Abreu, não se poupou nas críticas ao desafiador: “Parece óbvio que é uma situação de assalto ao poder e de medo, receio de perder posições e, sobretudo, lugares”, disse, sublinhando que o desafio de Montenegro deve merecer uma resposta “enérgica e com força”.

Segundo apurou o Observador, e segundo avançam também o Expresso e o Diário de Notícias este sábado, citando fontes anónimas da direção de Rui Rio, a tal resposta “enérgica e com força” passa por não dar aos “golpistas” aquilo que eles querem — eleições diretas já — mas sim deixá-los fazer o caminho mais difícil, o caminho das pedras. Que caminho é esse? Conseguir as assinaturas para convocar um Conselho Nacional extraordinário, primeiro; conseguir as assinaturas para apresentar uma moção de censura, depois (é preciso um quarto dos conselheiros com poder de voto); e conseguir que a moção de censura seja aprovada por maioria absoluta dos conselheiros presentes. Só isso provocará a queda da comissão política nacional — mas não necessariamente a queda do líder do partido (que é presidente da comissão política nacional) –, e só isso levará à convocação de eleições diretas para a escolha do líder.

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Mas também aí não é líquido que Montenegro, se lá chegar, consiga ganhar. É que também há outros sociais-democratas que estão em bicos de pés à espreita, e que não descartam avançar também: Miguel Morgado não rejeita, tendo até dito ao Observador que foi um “erro” não avançarem todos em 2017; Miguel Pinto Luz diz aos microfones que não era o momento certo para Montenegro romper a fita, mas o Observador sabe que não rejeita avançar quando soar o tiro de partida; e Paulo Rangel, que tem as europeias como prioridade, pode igualmente não ficar de fora (sobretudo se Rui Rio decidir não avançar).

Ao que o Observador apurou, os rioístas fazem contas, contam cabeças, e equacionam cenários. Um deles pode passar por se antecipar aos críticos e, em vez de esperar pela moção de censura, poder mesmo apresentar uma moção de confiança no Conselho Nacional. Outro cenário é esperar que a moção de censura dê entrada, tentando ganhar tempo e recrutar soldados até lá. O prazo que pode estar na cabeça deles é meados da semana que vem, não mais do que isso. Certo para já é que a direção de Rio não vai dar aos críticos aquilo que querem: convocar eleições diretas.

“Rui Rio não alinha em foguetes”, disse uma das fontes rioístas ao Diário de Notícias, para dar força à ideia de que Rio não vai responder a Montenegro na mesma moeda, nem vai aceitar o repto lançado. Muito menos se vai demitir. A ideia deverá ser responder a Montenegro indiretamente, via perguntas dos jornalistas, em vez de convocar uma comunicação oficial.

No núcleo de Rio, a comunicação de Montenegro, a pedir “diretas já” é vista inclusive como um “sinal de fraqueza”, que prova que os opositores não têm a certeza de que têm maioria no Conselho Nacional — daí que os rioístas prefiram essa via administrativa, para ganharem tempo para eles próprios contarem cabeças e fazerem os convencimentos de última hora. Porque também eles, segundo apurou o Observador, não têm a certeza se têm essa maioria de conselheiros. A contagem de cabeças é incerta e minuciosa, como explica o Observador.

Vem aí a contagem de espingardas. Quem tem voto na batalha do ‘impeachment’ de Rio?