Quem olha hoje para Héctor Herrera vê um indiscutível. Um comandante. Um capitão. Nem sempre foi assim. E basta recordar os jogos que o mexicano ia fazendo pela equipa B depois de assinar pelo FC Porto, como aquele onde se estreou com a camisola azul e branca no Municipal de Aveiro frente ao Beira-Mar em agosto de 2013 com uma vitória por 3-2 numa equipa liderada por Luís Castro onde estavam também Ricardo Pereira, Carlos Eduardo ou Tozé. Ao todo, realizou oito jogos nessa Segunda Liga até janeiro, tantos como na formação principal. Teve os seus momentos baixos mas conseguiu chegar ao topo, cumprindo na receção ao Belenenses o 150.º encontro no Campeonato pelos dragões, valor apenas superado no atual plantel por Maxi Pereira.

O sorriso de Óliver, o protagonista principal que queria tudo menos protagonismo (a crónica do FC Porto-Belenenses)

Contratado nessa época de 2013/14 ao Pachuca, onde fez toda a formação depois de ter sido visto por um observador do clube num torneio na cidade onde nasceu, Tijuana (jogou mais tarde por empréstimo no Cuautla e no Tampico Madero), o mexicano nunca conseguiu deixar de lado o “rótulo” de contratação mais cara da temporada, com os dragões a pagaram oito milhões de euros por 80% do passe – valor que subiria ainda mais com as comissões pela intermediação do negócio. Juan Román Riquelme, antigo número 10 de Boca Juniors, Barcelona ou Villarreal, era um dos seus ídolos mas nem por isso jogavam na mesma posição ou tinham as mesmas características. Esse foi, sobretudo, o grande problema de Herrera no FC Porto até determinado momento: encontrar o melhor lugar em campo e o modelo mais adequado para retirar o melhor do médio.

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Foi assim com Paulo Fonseca, com Luís Castro, com Julen Lopetegui, com José Peseiro, com Nuno Espírito Santo. A própria dança de treinadores perante o insucesso desportivo não era propriamente a melhor notícia para o internacional, que em todas as reaberturas de mercado era apontado a vários clubes europeus e americanos. A partir de 2016, com novo estatuto de capitão de equipa, onde tentou colocar em prático o que aprendeu com outras das suas referências, Lucho González, “um ídolo pelo que fazia dentro de campo mas também fora”. Foi sempre ficando, a partir de certa altura como uma espécie de patinho feio da equipa, quase pessoalizando a frustração de adeptos que se tinham habituado a ganhar e que não festejavam qualquer título desde agosto de 2013 – quando Herrera chegou, apesar de não ter jogado essa Supertaça frente ao V. Guimarães.

Herrera foi o capitão que levantou o título de campeão após quatro anos de jejum do FC Porto (MIGUEL RIOPA/AFP/Getty Images)

Em novembro de 2016, o médio teve um dos piores momentos no Dragão, no clássico frente ao Benfica: depois de substituir o marcador do único golo até ao momento, Diogo Jota, teve um corte defeituoso que originou o canto do empate dos encarnados, já no período de descontos, naquele que foi um enorme balde de água fria para os visitados. No final da época, mais um ano sem títulos; depois, veio Sérgio Conceição e tudo mudou. “Quando cheguei ao FC Porto já era capitão. Perguntei quando cheguei: ‘Um mexicano capitão de equipa?’. Comecei a trabalhar com ele e percebi isso pelo grande homem que é, pelo profissional fabuloso. Ficou ligado a um ou outro momento menos positivo, mas é uma pessoa extraordinária e um profissional fantástico. É um grande capitão”, comentou o técnico. “Pela personalidade que tem, foi o fator mais importante para que o FC Porto voltasse ao lugar que merece. Tem esse ADN e transmitiu-o ao grupo. Foi o fator mais importante para voltarmos a ser campeões, a sermos uma equipa forte e competitiva. Ele ter vindo foi o melhor que me aconteceu”, assumiu o médio.

Golo na Luz frente ao Benfica em cima do minuto 90 foi decisivo nas contas do último Campeonato (CARLOS COSTA/AFP/Getty Images)

Realizou um total de 42 jogos na última temporada, 29 a contar para o Campeonato, e acabou por ser o principal símbolo do regresso aos triunfos no Campeonato com o golo decisivo no clássico realizado na Luz com o Benfica, em cima do minuto 90. “Sou a pessoa que mais quer ganhar neste clube e nesta equipa. Cada um tem o seu pensamento mas acho que sou o que mais quer ganhar e tento demonstrá-lo no dia a dia. Ganhar no FC Porto é algo que anseio e desejo muito. Todos os anos lutamos pelo Campeonato e, a nível pessoal, confesso que já estou cansado de não ganhar por este ou aquele motivo. A verdade é que eu e os meus companheiros temos uma crença enorme e acreditamos que este ano pode ser nosso”, disse à revista Dragões em dezembro de 2017, recordando o lance no clássico um ano antes: “Fui julgado pelas pessoas. Pessoalmente, não senti culpa, pois não fiz nada de mal, como um autogolo, por exemplo. A época passada foi difícil, mas se fizesse três golos num jogo continuaria a ser o mesmo. Quando as pessoas dizem que sou o melhor, não acredito; quando dizem que sou o pior também não”.

Herrera, o patinho-feio que virou cisne. “Sou a pessoa que mais quer ganhar neste clube”

Quando estamos ainda em janeiro, Herrera leva já 34 jogos oficiais, 19 na Primeira Liga – ou seja, todos até ao momento, apesar de ter atravessado um período com alguns problemas físicos que o colocaram como suplente utilizado. Mas estes podem ser também os últimos meses no FC Porto, por estar em final de contrato. “Se o tivéssemos vendido não recebíamos tudo porque só temos parte do passe, se pagássemos o que ele queria para a renovação, que eram seis milhões de euros, éramos nós que pagávamos tudo”, explicou Pinto da Costa em outubro, por altura da apresentação do Relatório e Contas de 2017/18. Nem por isso, tal como aconteceu no ano passado com Ivan Marcano e Diego Reyes, deixou de ser opção; pelo contrário, continua a ser um elemento fundamental. “Herrera e Brahimi em liberdade? Em liberdade condicional… Na época passada tivemos situações exatamente iguais mas tenho um grupo de trabalho extremamente profissional. Os jogadores estão envolvidos e comprometidos com os objetivos que temos para esta época. Se o Herrera e o Brahimi continuarem como estão, continuam a jogar; se o rendimento baixar, não jogam. É igual para toda a gente”, salientou Sérgio Conceição sobre os jogadores em final de contrato.

Mas se para Herrera, El Capitán que foi o primeiro a levantar a taça de campeão nacional depois de El Comandante em 2013, a receção ao Belenenses teve esse ponto especial, houve outro internacional mexicano a chegar a uma marca redonda esta quarta-feira: Jesús Corona cumpriu o 150.º jogo com a camisola do FC Porto, sendo o melhor em campo dos dragões no triunfo por 3-0 com uma assistência logo a abrir a partida para Brahimi, reforçando o posto de jogador com mais passes para golo entre os azuis e brancos na presente temporada (nove, mais uma do que Alex Telles).

E por falar em Brahimi, também o argelino conseguiu um registo marcante com a camisola azul e branca, ao chegar aos 50 golos em encontros oficiais pelo FC Porto (36 no Campeonato, nove na Liga dos Campeões, dois na Taça de Portugal, dois na Taça da Liga e um na Supertaça) naquela que é uma das melhores épocas em termos de eficácia e que prolongou a série de jogos consecutivos a marcar no Dragão para quatro, sendo mesmo o melhor marcador da equipa nos jogos em casa.