Tanto Ricardo Araújo Pereira como Bruno Nogueira e Joana Marques reagiram esta terça-feira aos polémicos reality shows emitidos no último domingo à noite. Os humoristas usaram os respetivos programas em rádios nacionais — “Mixórdia de Temáticas”, na Rádio Comercial,  “Tubo de Ensaio”, na TSF e “Extremamente Desagradável” na Rádio Renascença — para satirizarem os formatos “Quem quer casar com o meu filho?”, da TVI, e “Quem quer casar com o agricultor?”, da SIC. Ambos os programas já motivaram queixas endereçadas à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).

Ricardo Araújo Pereira: “Quem quer ser a empregada doméstica do meu filho?”

Ricardo Araújo Pereira não viu os programas no último domingo, fê-lo um dia mais tarde, pelo que, aquando da sua participação em mais uma “Mixórdia de Temáticas”, comentou: “Eu vivia na doce ignorância do conteúdo dos programas.”

Quem quiser ver isto, eu não o recomendo, tem de ter os seguintes cuidados: ver com um amigo, o amigo tem o comando de televisão na mão e a gente vê até aguentar e depois diz ‘desliga, desliga, eu não estou a aguentar mais, desliga!’. (…) Também se aconselha ver através de um vidro fosco porque aquilo é como estar a olhar para o sol da estupidez e da indignidade. É muito brilhante, tão brilhante. Tive de ver em movimento rápido (…) Eu devia ser mais profissional, devia ter visto aquilo do princípio ao fim, mas eu não aguentei”, continuou.

Ricardo Araújo Pereira batizou o programa da TVI de “Quem quer ser a empregada doméstica do meu filho?” e o da SIC de “Quem quer vir trabalhar de graça para a lavoura?”. Tendo em conta o primeiro formato, referiu que este consistia, no fundo, em “entrevistas de emprego”, que se resolviam entre as “miúdas e a mãe, o idiota não precisava de ir. “Aquilo é uma pessoa que se quer livrar de um mono que tem em casa”, disse ainda.

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Bruno Nogueira: “Quem quer casar com um paspalho e levar com a mãe?”

“Foi com algum choque que assisti à estreia dos novos reality shows da SIC e TVI. Para ser sincero o da SIC, ‘Quem quer casar com o agricultor?’, não me prendeu muito e até acho que tem um lado pedagógico. Devia ser apoiado pelo PAN. Arranjar namorada para um agricultor pode ser positivo, porque assim evita-se que algumas galinhas e gado bovino de pequeno porte sofram na pele a solidão do agricultor”, começou por dizer o humorista Bruno Nogueira.

“Agora, o programa da TV começa logo pelo nome: o nome devia valer bullying para o resto da vida aos filhos destas criaturas. Isto é pior que as mães que levam os filhos até aos 16 até à porta do liceu”, continuou, desta feita referindo-se ao formato transmitido na noite de domingo na TVI. O humorista foi, no entanto, mais longe e deixou uma crítica social:

Não vale a pena sequer referir que, 48h depois da grande celebração do dia da mulher e da independência da mulher, temos um programa em que um tipo está sentado num sofá com a mãe ao lado e entram mulheres por uma porta, tipo gado, e são questionadas por um menino da mamã e pela sogra com perguntas do género ‘Sabe cozinhar? O meu filho gosta de comer muito'”.

“Eu não vejo explicação para isto. Mulheres tratadas como gado, como se a mulher casasse para ir fazer de mamã do marido. Tipos que querem seduzir uma mulher e levam a futura sogra”, concluiu Bruno Nogueira.

Joana Marques: “Nem eu falo pelo meu filho, e ele tem dois anos”

“Não deve haver nada pior do que ser maior e vacinada e ter os paizinhos a falar por nós como se estivessem numa reunião de encarregados de educação do 5.º ano”, ironizou Joana Marques na Rádio Renascença. A comediante criticou repetidamente o formato de “Quem Quer Casar com o Meu Filho”, dizendo que as mães ainda deviam “corta o bife aos filhos”, e sublinhando que até a idade diziam por eles: “Nem eu falo pelo meu filho, e ele tem dois anos”.

A comediante não modificou o título do reality show da TVI, mas respondeu à pergunta que coloca: “Quem quer casar com estes filhos? Aparentemente niguém, a não ser as próprias mães. Que fiquem juntos, sejam felizes para sempre e não chateiam as outras pessoas“.

Isto é gente que se habituou a decidir pelos filhos. Começou por decidir coisas normais como o colégio em que andam e a roupa que vestem, mas depois nunca mais conseguiram parar e agora vão decidir com quem casam. Tem de ser alguém que lhes dê borboletas na barriga e lhes faça o coração palpitar — a elas, às mães, não aos filhos.

Joana Marques aproveitou para sugerir um desenlace alternativo para o programa: “Acho que como castigo para esta gente toda deviam ser as mães a casar com as raparigas“.