É um fenómeno global, já conta com 18 anos de carreira e tem vários programas na Netflix: o humorista Jimmy Carr está em Portugal a apresentar a digressão mundial The Best of Ultimate Gold Greatest Hits e, antes de rumar a norte para os espetáculos que tem agendados no Porto e em Braga, está a ocupar o palco principal do Cinema São Jorge, em Lisboa. Esta sexta-feira, 15 de março, atuou nele pela primeira vez e os portugueses puderam finalmente ouvir o seu humor negro ao vivo.

As piadas corrosivas e a frequente interação com o público são verdadeiras imagens de marca de Carr. Por atuar em todo mundo e interagir com povos e culturas diferentes costuma também incluir nos seus espetáculos alguns elementos de maior proximidade, referências a assuntos ou personagens que, por algum motivo, estão a dar que falar no sítio onde está. Em Portugal, claro, não foi diferente, e foram vários os alvos do comediante.

Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da Republica Portuguesa, foi o primeiro visado de Jimmy Carr. Poucos minutos depois de ter subido ao palco pela primeira vez, o humorista comenta com o público achar interessante a surpresa dos portugueses perante a energia de “Marcélhio” — como o próprio pronunciou. “Parece que ele anda sempre aí de um lado para o outro, sem parar, não é? Não percebo o que acham de tão surpreendente: é da cocaína!”, atirou. Por entre o atenuar dos risos da multidão, Jimmy ainda atirou: “Está sempre em todo o lado, a toda a hora, só dorme quatro horas por noite e ainda por cima baba-se de vez em quando [fazendo uma alusão ao “acidente” que  o chefe de estado protagonizou na receção ao presidente chinês, em Lisboa]… Só pode ser da coca!”

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De Marcelo saltou para o juiz Neto de Moura, quase de seguida: “Ouvi dizer que tem havido uns problemas com esse juiz, ele ilibou um homem que agrediu a mulher com um bastão utilizando a Bíblia como fundamento e dizendo também que, de qualquer forma, ela tinha-o traído… Alguém sabe-me dizer em que anos estamos? É praí 1634, não? “, atirou. Seguiu-se uma chuva de palmas mas, logo de seguida, a anedota continuou: “Pessoalmente acho que ele não está a entender bem o que a Bíblia conta… Se estivesse percebia que Deus não é um exemplo assim tão bom para este género de situações — ele engravidou a mulher do José, não é verdade? O José é que é um porreiro: “Ah, então foste engravidada por uma pomba… Ok, querida. Vou começar a pôr a mesa, então.”

Jimmy Carr: “O humor não tem limites, mas se ninguém se rir de uma piada é porque é ofensiva”

Finalmente, outra das “facadas” foi direcionada a Conan Osiris, o jovem músico que vai representar Portugal no festival da Eurovisão. Carr contava uma história fictícia sobre um episódio em que recebeu uma carta da associação inglesa de ciganos a pedir esclarecimentos sobre uma piada que tinha feito — “Eu quis responder-lhes, mas eles já tinham seguido em frente (“they had moved on”, em inglês. Um trocadilho que alude ao espírito nómada do povo cigano). “Ao menos eles eram mais interessantes que o cigano que vocês vão mandar à Eurovisão”, rematou. Por entre o entusiasmo houve alguém no público que o desafiou: “Ao menos é melhor que o artista que o Reino Unido vai levar!” Carr sorriu, mas quase de imediato (e carregado de ironia) ripostou: “Ui, vocês estão melhores que nós na Eurovisão. Na Eurovisão! Que horror para nós! A música portuguesa é que é impressionante… Internacionalmente reconhecida! Nós temos os Beatles, mas pronto, isso não é nada. Vocês é que têm artistas que enchem salas no mundo inteiro, como aquele… Aquele, vocês sabem… Como era mesmo o nome dele? Ah, já sei — Não existe!” Todos riram e ninguém levou a mal o humor de Carr, sem receios de pisar o risco do socialmente aceite.