Alguns dos procuradores da equipa que investigou o caso do alegado conuio entre a campanha de Donald Trump em 2016 e a Rússia têm demonstrado desagrado por acharem que o resumo que o Procurador-Geral fez do relatório final não é tão negativo para o Presidente dos EUA como será o documento de base.

A notícia é do The New York Times, que evoca fontes do Governo e também de pessoas próximas dos investigadores liderados pelo ex-procurador especial e antigo diretor do FBI Robert Mueller.

O relatório original, que ainda não é do conhecimento público, quase chega às 400 páginas. Porém, na altura de deliberar sobre as conclusões da equipa de Robert Mueller, o Procurado-Geral, William Barr, sintetizou as conclusões do relatório original em apenas quatro páginas.

Nela, William Barr estabeleceu duas conclusões.

A primeira serve para, de forma inequívoca, dizer que não há provas de ter havido conluio entre a Rússia e Donald Trump: A investigação não determinou que membros da campanha de Trump conspiraram ou se coordenaram com o governo russo nas suas atividades de interferências com as eleições [presidenciais de 2016]”.

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A segunda, que tem sido alvo de contestação, e que é também a base do descontentamento de alguns procuradores, como avança o The New York Times, tem a ver com as suspeitas que havia de Donald Trump ter obstruído a justiça enquanto a investigação decorria — sendo o afastamento de James Comey da direção do FBI um ponto alto dessas suspeitas. Na carta de William Barr, lê-se: “Embora este relatório não conclua que o Presidente cometeu um crime, também não o exonera”. Perante esta indefinição, o Procurador-Geral tomou ele próprio a decisão de dizer que “as provas desenvolvidas durante a investigação extraordinária não são suficientes para determinar que o Presidente cometeu o crime de obstrução à justiça”.

Afastada a nuvem negra da Rússia, vem aí a vingança de Donald Trump?

Desta forma, Donald Trump ficou ilibado de todas as suspeitas que estavam em seu torno.

Porém, a carta de William Barr esteve longe de arrumar o assunto. Imediatamente, os democratas exigiram que o relatório de Robert Mueller fosse divulgado de forma integral, alegando que o Procurador-Geral — que antes de ter sido nomeado por Donald Trump escreveu um paper onde defendia a sua inocência do crime de obstrução à justiça — podia ter uma interpretação partidária dos factos.

Entretanto, a 29 de março, perante as exigências políticas de que o relatório fosse divulgado ao público, o Procurador-Geral afirmou que esse passo vai ser dado. “Estamos a preparar o relatório para ser divulgado, fazendo as notas que não necessárias”, escreveu William Barr numa carta enviada ao republicano Lindsey Graham e ao democrata Jerrold Nader, líderes das comissões judiciárias no Senado e na Câmara dos Representantes, respetivamente. “Em breve, toda a gente poderá ler [o relatório] por si só.”

William Barr explicou que o relatório deverá ser divulgado em “meados de abril” e que até lá será feito um trabalho de depuração do texto original, do qual serão ocultados detalhes privados ou informações classificadas. Na mesma carta, o Procurador-Geral acedeu aos pedidos para ser ouvido em comissões de inquérito no Senado e na Câmara dos Representantes, sugerindo as datas de 1 e 2 de maio, respetivamente.