Enviado Especial a Pequim

As cerimónias de receção a chefes de Estado estrangeiros têm um coreografia mais ou menos comum, qualquer que seja o país que se visite. O que pode variar é a escala e o pormenor, e nisso os chineses não brincam em serviço. Não bastava a dimensão impressionante da Praça Tiananmen, logo ali à frente, e do próprio Grande Palácio do Povo, onde decorreu a cerimónia — o rigor foi ao ponto de ter sido usada uma linha para certificar que os cintos e as palas dos chapéus dos componentes da Guarda de Honra estavam alinhados.

Uma linha para garantir que a altura dos cintos e da pala dos chapéus era homogénea

Afinal esta era uma visita de Estado e acontecia menos de seis depois de Xi Jinping ter estado em Lisboa a fazer o mesmo. No encontro que as duas delegações tiveram logo a seguir à receção, quer o Presidente chinês quer o Presidente português salientaram isso mesmo. Xi Jinping falou de um “ponto histórico” e disse ser uma prova da “excelência das relações bilaterais”, Marcelo destacou o facto de essas relações, ao nível político, terem “subido de nível”: “Estamos a conseguir converter uma relação de séculos de amizade, de conhecimento e de colaboração entre a China e Portugal, numa realidade viva virada para o futuro”.

A reunião das delegações dos dois países no Grande Palácio do Povo, em Pequim

A “subida” a que Marcelo se referia foi formalizada logo a seguir com a assinatura de um memorando de entendimento entre os ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal e da China para o Estabelecimento de um Diálogo Estratégico (que substitui assim a anterior Parceria Estratégica estabelecida em 2005). Traduzido no concreto isto significa que, a partir de agora, Portugal e a China procedem a consultas políticas regulares sobre temas bilaterais e de política internacional e aumentam os contactos entre as autoridades governativas, com visitas mútuas, uma vez por ano, ora na China, ora em Portugal, ao nível dos ministros dos Negócios Estrangeiros.

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Para além deste foram assinados mais dois acordos:

  • Protocolo com o Instituto Confúcio relativo à Cooperação para o ensino de mandarim no ensino secundário português;
  • Acordo quadro relativo à cooperação comercial em mercados terceiros entre a AICEP e a China Export and Credit Insurance Corporation.

Na intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente português falou ainda da aproximação dos pontos de vista ao nível multilateral. Mas quando explicitou os pontos essenciais da posição portuguesa, ao contrário do que fez em Lisboa, desta vez não referiu especificamente os direitos humanos. A expressão usada pelo Presidente português foi a de uma perspetiva multilateral “defensora dos direitos internacionais e universais”, às quais Marcelo acrescentou a expressão “defensora das organizações internacionais, aberta à construção da paz, da segurança e do diálogo e preocupada com a liberdade de comércio”.

Por sua vez, Xi Jinping referiu a visita de Estado que fez a Lisboa e recordou ter sido “calorosamente recebido pelo governo e pelo povo português”.

Em retribuição, ofereceu ao chefe de Estado visitante um acolhimento caloroso e devidamente ensaiado de crianças chinesas, igualmente alinhadas como os militares e que agitavam animadamente bandeiras de Portugal e da China.

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No final das cerimónias, as duas delegações seguiram para um banquete oferecido pelo Presidente chinês.  No menu houve sopa de pato com brotos de bambu, frango ao molho, novilho crocante e peixe agridoce ao estilo de Lago do Oeste. Foram ainda servido Dim Sum enquanto a banda tocava para os convidados. Para além da música chinesa, a seleção musical incluiu também “Oliveirinha da Serra” e “Postal dos Correios”, dos Rio Grande.

Depois das despedidas, Marcelo disse também adeus a Pequim e seguiu viagem em direção a Xangai.