O PSD apresentou 56 perguntas a colocar ao ex-primeiro-ministro José Sócrates no quadro da comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos. A longa lista do requerimento social-democrata arranca com o pedido de explicação de Sócrates para se recusar a ir presencialmente à comissão de inquérito, tendo optado responder por escrito e acaba a perguntar se o “Sr. Eng. recebeu quantias monetárias ou outros bens por parte do Grupo BES, Grupo Lena ou Vale do Lobo?”

A opção de responder por escrito é uma prerrogativa do primeiros e antigos primeiros ministros que tem sido a regra nos esclarecimentos dados em comissões de inquérito. A ida de Sócrates seria por isso inédita, pelo menos na história recente dos inquéritos parlamentares.

As perguntas a remeter ao ex-primeiro-ministro terão de ser entregues pelos partidos ao presidente da comissão de inquérito até ao fina desta sexta-feira e as respostas a receber serão uma das mais importantes peças finais desta comissão de inquérito, que aguarda também o envio de alguns documentos.

Os social-democratas percorrem praticamente todos os temas centrais desta comissão de inquérito cujas audições terminaram esta quarta-feira. Desde as nomeações para a Caixa Geral de Depósitos, logo após a substituição do ministro das Finanças por Teixeira dos Santos, em 2005, e que envolveram Armando Vara e Carlos Santos Ferreira, até à passagem destes para a gestão do BCP e o envolvimento do banco público e do próprio Governo na guerra de poder no banco privado, onde tem destaque o empréstimo da CGD a Joe Berardo.

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As perguntas passam ainda por outros temas quentes da governação de Sócrates, aproximando-se de áreas sensíveis porque remetem para a acusação da Operação Marquês. São os casos de Vale do Lobo, onde se questiona se Armando Vara funcionava como comissário político na administração da CGD, e da oferta pública de aquisição (OPA) da Sonae sobre a PT, chumbada com a ajuda do voto da Caixa, e onde se pergunta a Sócrates se discutiu o tema com Ricardo Salgado ou deu indicações aos gestores da CGD. Na última pergunta a ligação à acusação da Operação Marquês é direta.

O antigo primeiro-ministro será também interrogado sobre o investimento da Artlant, o projeto PIN (potencial interesse nacional) da espanhola La Seda que o Governo socialista apoiou, e com ajuda do dinheiro do banco público, onde se pergunta se o Governo deu alguma orientação ao banco do Estado para financiar.

Sócrates irá ainda responder sobre se teve conhecimento e como a tutela acionista lidou com os alertas que lhe chegaram em relação à gestão da Caixa Geral de Depósitos, endereçados pelo ex-presidente do conselho fiscal, Paz Ferreira, e pelo antigo presidente do banco Faria de Oliveira, que apontava para a exposição excessiva da Caixa ao BCP e ao mercado acionista.