Quase ninguém na reunião da comissão política do PSD/Lisboa conhecia o nome: Joana Corrêa Monteiro. Apesar disso, o nome foi aprovado como uma das duas indicações da concelhia de Lisboa, uma das maiores do país, como candidata a integrar as listas de deputados. Só isto seria insólito, mas aconteceu pior. A própria Joana Monteiro desconhecia que tinha sido apontada e — num email enviado à distrital, à qual o Observador teve acesso — negou ter autorizado que o seu nome fosse indicado para uma lista à Assembleia da República e disse desconhecer a pessoa que indicou o seu nome. O caso levou à demissão do presidente da concelhia, Paulo Ribeiro, mas a confusão não ficou por aí.

Voltando ao início. Na noite de segunda-feira, o presidente da junta de freguesia da Estrela, Luís Newton, controlou por completo a reunião da concelhia e conseguiu que fossem indicados os dois candidatos a deputados que pretendia. Um deles foi Rogério Jóia, o outro Joana Monteiro, que foi uma surpresa. O nome foi proposto por Carlos Martins, vogal da concelhia que também recebe uma avença na bancada do PSD na Assembleia Municipal, liderada por Luís Newton. Os membros da concelhia atribuíram a influência da escolha a Newton, que geriu a reunião da maneira que quis.

Ora, na quarta-feira, Joana Monteiro veio dizer na carta enviada à distrital que não conhece estes dois protagonistas: “A notícia de que a proposta do meu nome esteve no cerne de uma discussão interna da concelhia de Lisboa foi um motivo de surpresa para mim, como aliás o foi o facto de o meu nome ter sido proposto pelo dr. Carlos Martins, que não conheço, ou secundado pelo dr. Luís Newton, que também não conheço.” E acrescenta que não conhece “pessoalmente nenhuma das pessoas envolvidas nas estruturas da concelhia do PSD de Lisboa”, nem tem “qualquer ligação ao partido”.

Na mesma missiva, Joana Monteiro deixa claro: “Não estou interessada em participar nas listas do PSD nas próximas eleições legislativas“. A professora da Universidade Nova de Lisboa revela que apenas “soube pelos jornais” que o seu “nome seguiu proposto pela concelhia de Lisboa, sem que tivesse consciência de que isso pudesse chegar a acontecer e muito menos que fosse integrar uma lista de apenas dois nomes”. Por outro lado, Luís Newton foi o grande impulsionador de que a lista só tivesse dois nomes.

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O nome de Joana Monteiro não vem, no entanto, do nada. A investigadora explica que foi “contactada por uma pessoa” que conhece “por motivos profissionais” e “cuja relação com o PSD desconhecia”. Essa pessoa, revela, pediu-lhe “autorização para sugerir o nome naquilo que me foi descrito como uma reunião interna e prévia de preparação de propostas para listas onde seriam discutidos vários nomes”. Joana Monteiro garante que logo nessa altura manifestou “explicitamente que não estaria interessada em integrar as listas do partido para as eleições legislativas”, mas apenas acedeu que o seu nome “fosse considerado, por cortesia para com a pessoa que me contactou, e na convicção — que percebo, agora, ser falsa — de que se trataria meramente de uma conversa preliminar e de que eu teria oportunidade de declinar o convite, caso ele viesse a acontecer efetivamente“.

Joana Monteiro denuncia assim que foi arrastada para uma guerra partidária sem ser autorizada para tal e deixa um repto aos dirigentes da distrital: “Não pretendendo ver o meu nome associado a nenhum tipo de quezília interna, peço que o meu nome seja desde já retirado da proposta que a concelhia enviará à distrital”. O que motivou a escolha de Newton — que o Observador voltou, sem êxito, a tentar contactar — terá sido afastar os nomes de outras candidatas como Maria Emília Apolinário e Joana Barata Lopes, que acabou indicada por outra concelhia do distrito.

José Eduardo Martins ataca “caminho para a irrelevância do PSD Lisboa”

“É um episódio triste, mas é só mais um”. Foi assim que José Eduardo Martins comentou, em declarações ao Observador, o caso de Joana Monteiro, o nome aprovado pela distrital de Lisboa para vir a integrar as listas de deputados à Assembleia da República que, sabe-se agora, não tinha sequer autorização da própria. Em causa está uma guerra que já tem dois anos, e na qual José Eduardo Martins diz ter sido traído pelo mesmo Luís Newton, presidente da junta da Estrela e líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal, que agora estará na origem da indicação não autorizada. “Lamento constatar que não se inverte o caminho para a irrelevância do PSD de Lisboa, é um episódio triste, mas é só mais um, infelizmente”, disse José Eduardo Martins.

Depois de ter feito campanha nas autárquicas ao lado de Teresa Leal Coelho, como candidato do PSD à Assembleia Municipal, José Eduardo Martins acabaria por renunciar ao mandato depois de ter sido ultrapassado por Newton no cargo de presidente do grupo parlamentar do PSD na Assembleia Municipal — um cargo que seria naturalmente daquele que foi candidato pelo partido à Assembleia Municipal. Mas quem acabou por ser eleito foi Newton, que tem lugar na Assembleia Municipal por inerência, sendo presidente de uma junta do PSD, a junta da Estrela.

Em entrevista ao Observador no dia seguinte a ter rompido com o PSD em Lisboa, em outubro de 2017, José Eduardo Martins dizia que “descartá-lo” foi a prova dos interesses instalados e da “manutenção do status quo” que reina no aparelho do PSD. “Uma Assembleia Municipal liderada por um jovem presidente de junta não tem verdadeiramente condições de se credibilizar como oposição ao PS e ao presidente da câmara municipal”, dizia na altura. Questionado sobre se essa falta de credibilidade se devia ao facto de Newton ser apenas um jovem presidente de junta ou por ser alguém que está envolvido em casos de viagens pagas pela Huawei e em casos de ajustes diretos avultados feitos a empresas ligadas a militantes do PSD, Martins responderia: “Mais a segunda”.

Duarte Marques fora das listas em Santarém

A reunião da comissão política distrital de Santarém confirmou que Duarte Marques, um dos deputados mais influentes no distrito, vai ficar fora das listas. O deputado e anterior vice-presidente, Duarte Marques, e o anterior líder distrital, Nuno Serra, perderam as últimas eleições para a distrital. Relvas deu uma ajuda e o outro vice-presidente (o grande apoiante de Rio nas diretas daquele distrito), João Moura, foi eleito presidente com a importante ajuda de Isaura Morais, em Rio Maior.

Duarte Marques é deputado desde 2011

A votação foi de braço no ar, o que não era prática nos últimos anos em Santarém. Duarte Marques foi indicado por quatro concelhias (Mação, Sardoal, Entroncamento e Ferreira do Zêzere, esta última não terá sido aceite) e pelos TSD. Ou seja: foi o nome com mais indicações. Mas João Moura já tinha feito a sua lista e Duarte Marques não aparece em nenhum dos lugares. A distrital ignorou o pedido da direção para a lista ser feita por ordem alfabética e aprovou uma lista em que os primeiros seis nomes foram:

  1. João Moura;
  2. Ramiro Matos;
  3. Isaura Morais;
  4. Rui Rufino;
  5. Jorge Simões;
  6. Sónia Ferreira;

A única hipótese de Duarte Marques ser agora deputado é ser indicação nacional, o que é muito difícil. Embora venha da ala dos barões (barrosistas e ferreiristas) e seja próximo de Nuno Morais Sarmento, os lugares potencialmente elegíveis encurtam no círculo de Lisboa, onde também poderia entrar. Duarte Marques apoiou Santana Lopes, ainda que timidamente, mas recusou-se a alinhar na guerrilha anti-Rio após as diretas. Só Morais Sarmento o poderia salvar. Resta saber se tem poder de influência para isso junto de Rui Rio.

Até segunda-feira vão decorrer as restantes reuniões da distrital.