Dezenas de mexilhões mortos, com as cascas abertas e quentes, a sua carne completamente cozinhada — é este o cenário que se vê na pequena localidade de Bodega Head, na Califórnia, e é resultado da tremenda onda de calor que tem assolado esta zona dos Estados Unidos (e não só).

Segundo o The Guardian, estes dias seguidos de temperaturas altíssimas causou o maior massacre de mexilhões em Bodega Hill nos últimos 15 anos. Há relatos semelhantes espalhados por quase 230 quilómetros de costa. Estima-se que os conjuntos de mexilhões têm enfrentado águas com temperaturas perto dos 40 graus, em momentos de maré baixa.

Vários especialistas defendem que esta mortandade irá afetar o ecossistema marítimo desta costa norte-americana. Jackie Stones, coordenadora de investigação na reserva marinha de Bodega Head, afirma que os “mexilhões são conhecidos como sendo espécies basilares, o equivalente às árvores numa floresta. Eles dão abrigo e criam habitat para uma grande quantidade de animais, daí que esta situação vá causar repercussões no resto do sistema.”

Anos de pesquisa dedicada à saúde dos oceanos foram dedicados ao tema do aumento da temperatura das águas e os efeitos da acidificação da fauna marinha. Algas e corais estão a sofrer bastante com estas alterações, estrelas do mar estão a derreter e o marisco corre o risco de se começar a dissolver — tudo isto só por causa do aumento da temperatura da água. Contudo, há menos estudos sobre os efeitos que esta alteração tem causado em zonas mais perto da costa.

Brian Helmuth, um ecologista marinho da Northeastern University, desenhou um mexilhão robótico que consegue medir e registar temperaturas da forma como os animais reais a sentiriam. “Já não consideramos as alterações climáticas como algo do futuro, temos de nos prepara para isto agora”, disse Helmuth à BayNature, a entidade que reportou primeiro esta situação dos mexilhões cozinhados.

O biólogo da University of British Columbia Christopher Harley documentou um evento parecido em Bodega Head em 2004 mas tanto ele como Stones acreditam que este é muito mais grave.  “Estes eventos estão a tornar-se mais frequentes e severos”, contou o mesmo Harley. As reservas de mexilhões que vão da costa da Califórnia à British Columbia tem diminuído, diz o mesmo perito: “Os mexilhões são uma espécie de canário na mina de carvão, no que diz respeito às alterações climáticas. A única diferença é que este ‘canário’ não fornece comida e habitat a centenas de outras espécies.”

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