O Theatro Circo, em Braga, vai encerrar as portas e fazer esta noite uma vigília pela morte da uma funcionária, que foi morta com uma navalha nesta quarta-feira pelo companheiro, num gesto que pretende ser também “um grito de alerta” contra a violência doméstica. O agressor, de 47 anos, aguarda julgamento em prisão preventiva e já foi conduzido ao Estabelecimento Prisional de Braga.

“Pela Cultura também se educa. Nem uma vítima mais”, explicou à Lusa o diretor artístico da sala de espetáculos do Minho, Paulo Brandão, que adiantou ainda que além de encerrar as portas durante o dia, também a Companhia de Teatro de Braga (CTB) cancelou o espetáculo previsto para esta quinta-feira. À Rádio Observador, Brandão recordou “que Braga tem um índice elevado de crimes de violência doméstica”, e que, portanto, os funcionários do Theatro decidiram “que era o momento de manifestarmos e mostrarmos isso mesmo à sociedade de Braga”.

A vigília acontece através de um “momento de reflexão, solidariedade e de alerta” contra um “flagelo que afeta a sociedade e não deve ser escondido”. Estes são “crimes horrendo que têm acontecido há muitos anos, sempre com uma média que não há meio de baixar”, completou Brandão.

COMUNICADOO Theatro Circo vem por este meio comunicar, com profundo pesar de toda a equipa, o falecimento da…

Posted by Theatro Circo on Thursday, September 19, 2019

Segundo Paulo Brandão, a vítima “era parte da equipa, da família do Theatro Circo, desde 2010” e deixa “na memória dos colegas uma profunda bondade, a simpatia e o sorriso fácil, a prontidão em ajudar em todas as situações, mesmo em momentos de adversidade”.

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O responsável salienta que Gabriela, “foi vítima de violência doméstica” e que o Theatro Circo, que conta com 17 mulheres na equipa para fazerem do espaço “um lugar de fruição de arte, de cultura, de harmonia, não pode deixar de repudiar profundamente este ato de violência que tirou a vida a uma das melhores pessoas que contribuía diariamente para esta casa”.

“Convidamos a cidade a juntar-se a nós, vestindo de branco e trazendo consigo uma flor”, pediu Paulo Brandão.

Carla Ferreira, técnica da rede de apoio a familiares e amigos das vítimas de homicídio e terrorismo da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), apelou, em entrevista à Rádio Observador, para que a sociedade, já “informada” dos casos de violência doméstica, de “o salto para a denúncia”.

“Temos uma sociedade que estará pelo menos mais informada, neste momento, toda a informação que existe acerca da violência doméstica será uma informação acessível a praticamente, eu diria, todas as pessoas. Mas a diferença está entre estar informado e dar o salto para pedir ajuda nestas situações”, pedindo para “deixarmos de tapar os olhos, deixarmos de fazer de conta que não estamos a ver”, disse Ferreira.

Há muitas dificuldades, obviamente, que as vítimas podem experienciar. Elas próprias podem ter dificuldade em fazê-lo [a denúncia], mas toda a sociedade que vai sabendo desses casos, todos os profissionais que muitas vezes contactam com essas pessoas, em contexto formal ou informal, todas as pessoas que são os vizinhos ou as vizinhas que ouvem aquilo que se está a passar no apartamento acima, ou na casa ao lado, portanto mais do que estarem informados, é importante darem o salto para a a denúncia”.

Gabriela Matos, de 46 anos, deixa dois filhos e foi morta com uma navalha, segundo dados da Polícia de Segurança Pública (PSP), sendo que o suspeito do crime entregou-se numa esquadra da PSP.

Segundo fonte da Direção Nacional da PSP, um homem, de 47 anos, entregou-se “numa esquadra do Comando Distrital de Braga indicando que feriu a sua companheira com uma arma branca”.

“A PSP deslocou-se ao local indicado pelo suspeito, a via pública, e encontrou a vítima. Foram acionados os meios de emergência e o óbito foi declarado no local”, referiu a mesma fonte.

Segundo dados da Procuradoria-Geral da República, que o Observador teve acesso, Gabriela é a 27.ª mulher morta decorrente de violência doméstica no ano de 2019.