Daniela Braga, fundadora da DefinedCrowd, foi a grande vencedora da primeira edição do prémio João Vasconcelos, um prémio anual criado pela Startup Lisboa em homenagem ao seu fundador e ex-secretário da Indústria, que pretende distinguir o empreendedor ou empreendedores do ano. Daniela Braga fundou uma startup de análise de dados com recurso a inteligência artificial e machine learning e recebe agora um prémio no valor de 10 mil euros.

O anúncio foi feito numa cerimónia que se realizou esta quarta-feira e contou com a presença de Miguel Fontes, diretor da Startup Lisboa. “Estamos cá pelo João e pela marca que ele deixou em nós“, começou por referir Miguel Fontes durante a apresentação, no dia em que João Vasconcelos celebraria 44 anos. “Queremos perpetuar a sua memória, o seu legado e sobretudo a pegar naquilo que ele nos deixa e fazer continuar”, acrescentou.

Das mais de 40 candidaturas recebidas nesta edição — das quais 25% foram candidaturas de fundadoras mulheres –, os três finalistas deste prémio foram José Salgado, Sérgio Vieira, Jorge Correia, Diogo Silva, João Matias e Pedro Gaspar, fundadores da 360imprimir; Daniela Braga, fundadora da DefinedCrowd, e Amélia Santos e Nuno Vitorino, fundadores da Innuos.

Sobre a empreendedora vencedora, Daniela Braga desenvolveu uma plataforma de recolha de dados para treino de Inteligência Artificial e a sua startup conta neste momento com 140 colaboradores (e, garantiu, vão aumentar até ao final do ano), estando a DefinedCrowd presente em três continentes. “Somos a grande plataforma para recolha de dados para todas as empresas treinarem a Inteligência Artificial na área da voz, linguagem natural e visão”, explicou a empreendedora.

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“Daniela distinguiu-se pela sua capacidade de liderança na DefinedCrowd, startup que deu provas de crescimento a vários níveis: na facturação, que multiplicou por 10, e na equipa, que passou de 30 para 140 colaboradores, distribuídos por 4 escritórios em 3 continentes”, referiu a Startup Lisboa em comunicado. Do júri do prémio fizeram parte empreendedores da Startup Lisboa e que trabalharam com João Vasconcelos: Anthony Douglas, Bárbara Vidal, Celestino Alves, Domingos Guimarães, Hugo Oliveira, Jaime Jorge, Maria Miguel Ferreira, Renata Militão, Teresa Van Oerle alumni e Mariana Duarte Silva.

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As luvas vermelhas, as mulheres no mundo tech e o copo meio cheio

Quando subiu ao palco depois do seu nome ser chamado, Daniela Braga recebeu um par de luvas vermelhas, iguais  àquelas com que João Vasconcelos se fazia acompanhar em algumas fotografias. A lembrança, conta ao Observador, só tem um lugar como destino: “Vão ficar nos escritórios de Lisboa, porque este prémio começou aqui. A tecnologia da DefinedCrowd é aqui em Portugal e as luvas vão ficar no coração da empresa, que é cá”.

Daniela Braga recebeu um par de luvas vermelhas, uma imagem muito associada a João Vasconcelos

Além do significado de ter sido a primeira pessoa a receber o prémio João Vasconcelos, Daniela Braga considera que o facto de ter sido uma mulher a receber esta primeira distinção também é um indicador especial e “está completamente na linha de diversidade” que sempre viu em João Vasconcelos que, conta, “não olhava para uma mulher ou um homem pela questão do género, mas como uma pessoa que representa o talento português”.

A empresa de Daniela tem atualmente 150 funcionários, 100 dos quais em Portugal, e, conta a empreendedora, 42% dos seus funcionários são mulheres, algo que no mundo tech é difícil de encontrar. “Além de crescerem formatadas para desempenhar um determinado papel, as mulheres que estão em empresas ainda são muito associadas a indústrias tradicionalmente femininas como a moda ou as artes e isso é outro estigma que tem que se rebentar”, explicou, acrescentando que faltam “exemplos” de mulheres nesta área.

“Perguntam-me como é possível fazer uma empresa tendo uma filha. Mas ninguém pergunta isso a um homem”

Sobre João Vasconcelos, Daniela destacou o orgulho que o antigo secretário de Estado da Indústria tinha em ser português e naquilo que era criado em Portugal e relembrou a sua presença em dois momentos importantes da vida da DefinedCrowd e que, sem eles, “a empresa não teria tecnologia made in Portugal”: “Em 2015 ele aceitou na hora a nossa candidatura para a Startup Lisboa, quando andávamos à procura de um escritório. Um ano depois, numa segunda fase talvez ainda mais importante, o João incentivou-me a concorrer ao programa da Portugal Ventures”.

Atualmente, a DefinedCrowd conta com mais de 40 clientes a nível global, incluindo nomes como a BMW e a Mastercard ou as portuguesas EDP e Grupo Mello Saúde”. Relativamente às receitas, a fundadora referiu que o plano inicial para este ano de atingir os 20 milhões de dólares será “provavelmente ultrapassado”, mas a equipa está também empenhada em aumentar a prioridade interna e fomentar a cultura da empresa.

Um dos meus objetivos é fazer uma única DefinedCrowd com as 25 nacionalidades, quatro escritórios e três continentes. A minha prioridade é ter as pessoas todas alinhadas nos nossos valores e na nossa visão e aceitar toda a diversidade”, destacou Daniela Braga ao Observador.

E como se define Daniela Braga como empreendedora? A sua grande característica, explica, é “não ter medo de ultrapassar as amarras da formatação da sociedade e ter vontade em sair da zona de conforto”. “Acho que me saio melhor quando tenho um desafio porque vejo sempre o copo meio cheio em vez do copo meio vazio em situações de dificuldade. Tal como o João fazia”.

“Qualquer uma destas startups daria cartas em qualquer ecossistema”

Ainda durante o evento, Miguel Fontes, ao leme da Startup Lisboa desde 2016, anunciou novidades para a segunda edição do prémio: se este ano apenas podiam participar os empreendedores da cidade de Lisboa, a próxima edição será alargada a empreendedores de todo o país. “Tivemos muitos empreendedores que nos perguntavam sobre os empreendedores de outros lugares do país. Explicamos que era Lisboa porque tinha origem na Startup Lisboa, mas rapidamente pensamos em dar outra dimensão”, explicou o diretor da incubadora de empresas ao Observador.

O prémio empreendedor do ano João Vasconcelos foi anunciado a 28 de março, dois dias depois da morte do antigo secretário de Estado. Os 10 mil euros atribuídos são financiados em partes iguais pelos fundadores da associação Startup Lisboa: a Câmara Municipal de Lisboa, o IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação) e o banco Montepio Geral.

Miguel Fontes voltou a sublinhar que este prémio é “um ato elementar de justiça” para perpetuar a memória de João Vasconcelos.

Como já o tinha feito antes, Miguel Fontes voltou a sublinhar que este prémio é “um ato elementar de justiça” para perpetuar a memória de João Vasconcelos. E explicou quando é que a ideia surgiu: “Foi uma coisa que nasceu com toda a naturalidade. Pensei neste prémio no dia em que estava a participar no funeral do João Vasconcelos. Estava dividido: a viver intensamente aquele momento e, ao mesmo tempo, a pensar no que é que nós devíamos fazer para que não ficássemos sobretudo agarrados apenas a uma perda, mas que pudéssemos pegar no legado do João e fazer dele algo de positivo”.

Prémio João Vasconcelos é “um ato de elementar justiça”, diz diretor da Startup Lisboa

Os finalistas, conta, “são do melhor que há a nível internacional do empreendedorismo” e Miguel Fontes não tem dúvidas que “qualquer uma destas startups dá cartas em Portugal, mas daria cartas em qualquer ecossistema no mundo”. Para escolher os vencedores o júri teve em conta critérios como a visão e estratégia, a resiliência do empreendedor, a liderança e gestão da equipa, o crescimento alcançado e a penetração internacional.

(Artigo atualizado às 22h26)