“Não é por acaso que lhe chamam o SuperClásico: da Bombonera, junto às docas de Buenos Aires, ao Monumental Antonio Vespucio Liberti, no bairro de Belgrano, vão 13 quilómetros, mas talvez os 13 quilómetros mais tensos e intensos da história do futebol, 13 quilómetros que comportam em si tantas diferenças sociais, tanto anedotário, tanto exemplo de febre, devoção e loucura que se a palavra rivalidade tivesse uma medida científica, seria essa: 13 quilómetros. É a maior rivalidade do mundo e estamos algumas horas de assistir à mais pura e explosiva das suas versões: o primeiro SuperClásico disputado numa final da Libertadores (a Champions da América do Sul), o que equivale a dizer que é o mais importante Boca Juniors-River Plate de todos os tempos, o jogo mais quente, mais imprevisível, mais propício à alucinação – e mais perigoso da história do futebol.”

Imprevisível, perigoso, “SuperClásico”: Boca Juniors vs. River Plate, a maior rivalidade do mundo

Era assim que João Bonifácio falava sobre o Boca Juniors-River Plate do ano passado, naquela que ficaria como a final mais longa de sempre da Taça dos Libertadores (já lá iremos – porque teve então tudo aquilo que não ocorreu esta madrugada). Mas, como em qualquer rivalidade centenária, há sempre uma história nova ainda por contar e o Clarín provou isso mesmo esta semana, quando juntou dois historiadores ligados a cada um dos clubes para ver que aqueles dois clubes nascidos no pequeno mas populoso bairro de La Boca, em Buenos Aires: o distanciamento dos dois clubes também foi propiciado por um concurso de popularidade no jornal diário La Mañana (que deu a vitória ao Boca) que teve depois cartas dos leitores provocadoras… algumas delas escritas por um jornalista.

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Esse episódio pode ter iniciado, adensado ou marcado a relação entre xeneizes e millonarios mas ficará apesar de tudo como mais um capítulo de um livro sem fim que continuará a somar histórias atrás de histórias entre os duelos nacionais ou continentais, como era agora o caso. E nada do que aconteceu há quase um ano mostrou agora sequer sinais: não houve uma chuvada como aquela que adiou a primeira mão na Bombonera, não houve nenhum ataque ao autocarro do Boca junto ao Monumental a cancelar a segunda mão, não houve necessidade de agarrar nas malas e viajar até Madrid para cumprir um mero jogo de futebol. Tudo normal, dentro da “anormalidade” característica de um dos mais apaixonantes encontros da atualidade e de sempre.

Quintero, o dragão que deu fogo ao River Plate e decidiu a final mais longa de sempre da Libertadores

Do espetáculo com luzes aos foguetes, das tochas aos rolos e papéis pelo ar, a entrada das equipas voltou a deixar o Monumental ao rubro no reencontro entre os dois finalistas da Libertadores de 2018 que, pelas classificações na fase de grupos da prova, acabaram por cruzar de forma precoce nas meias desde ano. E se o recinto do River Plate já parecia um autêntico vulcão em ebulição a abrir, pior ficou logo nos minutos iniciais com a ajuda do VAR: após um lance onde Andrada fez uma grande defesa e o Boca saiu com perigo para o contra-ataque, o jogo acabou por ser interrompido e o árbitro assinalou mesmo (bem) grande penalidade a favor dos visitados, dando a Santos Borré a oportunidade concretizada de inaugurar o marcador aos 7′, com mais tempo parado do que útil.

Em vantagem, o conjunto de Marcelo Gallardo entrava na zona de conforto de poder jogar também com a subida ou não das linhas dos visitantes para sair em transições como tanto gosta mas seriam os xeneizes a ficar muito perto do empate com um remate de fora da área de Mac Allister, que viu Armani desviar ligeiramente a bola até bater ainda na trave e sair para canto (17′). Com mais bola entre algumas quezílias, o River Plate tentava entrar no último terço através da habitual mobilidade dos homens da frente e com um futebol apoiado mas sem efeitos práticos, apesar de ter ficado próximo de beneficiar de mais uma grande penalidade num lance onde o uruguaio Nicolás De La Cruz sofreu falta na área que nem o árbitro principal nem o VAR consideraram.

Andrada continuava a brilhar na baliza do Boca Juniors (mais uma grande defesa a remate de Santos Borré aos 42′) mas a grande oportunidade até ao intervalo seria mesmo dos visitantes, que em poucos passes conseguiram colocar a bola na área contrária explorando a potência de Ábila em profundidade até Capaldo atirar por cima isolado na área num lance impossível de falhar que podia ter mudado o encontro, tal como um eventual segundo cartão amarelo não mostrado (e muito protestado) ao ex-central benfiquista Lisandro López depois de corte com a mão.

No segundo tempo, Gustavo Alfaro ainda viu a sua equipa conseguir subir um pouco mais as linhas nos minutos iniciais mas seria o River Plate a agarrar de vez no encontro e a ter mais do que chances para resolver tudo logo na primeira mão da meia-final: Ignacio Fernández fez o 2-0 a 20 minutos do final mas já antes Montiel tinha atirado ao poste num cruzamento remate de enganou Andrada e, a seguir do golo, Scocco ficou a centímetros de aumentar ainda mais a vantagem, antes de voltar a surgir isolado na área no período de descontos para nova intervenção do guarda-redes contrário. Em mais um encontro entre rivais, o melhor futebol dos millonarios voltou a fazer a diferença tendo mais do que sorte no jogo; aos xeneizes, só resta o amor e o ambiente que será criado na Bombonera para tentar ainda inverter uma eliminatória que parece ter destino traçado. De preferência, sem excessos, como o que levou Capaldo a ver o vermelho direto aos 90+7′ após entrada duríssima sobre Enzo Pérez.